domingo, 21 de abril de 2013

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » De espanto em espanto‏


Estado de Minas: 21/04/2013 

Acontece que uma amiga havia me mandado, lá de Portugal, um tipo de endereço na internet no qual você simplesmente escreve o nome de uma rua e o número que quer e ela aparece, instantaneamente, com as casas, lojas, carros etc. Só falta você ver o que as pessoas estão fazendo lá dentro.

Ela mandou isto com a seguinte instrução: “Localizador de endereços no mundo inteiro. Mais rápido do que o Google Earth. Com um simples toque, encontra qualquer lugar do planeta. Basta escrever o nome da rua e cidade que quer – e pronto! Duvida? Então comece pela sua rua: http://showmystreet.com/”.

Vocês já devem conhecer isso. Para mim foi novidade. Conhecia o localizador que via tudo de cima. Então resolvi testar. Tinham me dito que isto funcionava só para grandes cidades (já seria um feito inexplicável filmarem as ruas das grandes cidades do mundo). Fui localizando vários endereços onde morei, até mesmo fora do Brasil, aquela rua lá em Colônia (Alemanha), endereços nos Estados Unidos e, de repente, resolvi desafiar a máquina. Naquela hora estava relendo coisas que escrevi há mais de 30 anos, sob a forma do “quase diário”, que publico no jornal Rascunho de Curitiba. E naquele texto memorialista falava do petit chemin Gilles Borel. Era mesmo um pequeno caminho, que dava no meu apartamento em Aix-en-Provence. Eu passava por ali durante a primavera e ficava estonteado com tantas flores me recebendo nos muros e portões.

Cliquei. E apareceu o mesmo caminho. Comecei a andar por ali, senti o perfume de outrora e voltei a ter a idade daquela época.

Acontece também que estava em São Paulo nesses dias. E, como vocês sabem, tenho a mania não de jogar conversa fora, mas jogar conversa dentro do táxi, procurando saber da vida por meio dos taxistas. E vendo que meu táxi tinha um indispensável GPS – sem o que se torna impossível encontrar qualquer rua em São Paulo – disse ao motorista daquela minha descoberta no Google. E aí me dei conta de como estava defasado. O motorista me deu uma verdadeira aula de pós-modernidade eletrônica.

Foi logo dizendo que tinha aquele dispositivo no seu carro. E ele, que tinha antepassados na Ilha da Madeira, podia ver as casas e as ruas dos seus parentes ali mesmo do táxi. Eu, perplexo, é claro, pois para conhecer a Ilha da Madeira por duas vezes peguei ousadamente um avião. E ele via tudo de seu táxi.

Estava eu me acomodando à minha humilhação quando ele me diz: “Esse GPS aqui obedece à minha voz. Basta dizer Aeroporto de Congonhas e aparece aqui o mapa do caminho”.

Conversando sobre isto com meu personal na academia, ele me disse naturalmente que num dia desses viu um carro passando pela rua e filmando tudo para pôr no satélite. Ele falava isso com naturalidade, como se visse dinossauros todos os dias ou como se almoçasse com marcianos.

Isso tudo me levou a esta constatação banal: o futuro já está entre nós. E o que era perplexidade ontem, hoje é pura banalidade. E fui me inquirindo: que empresas fazem isto? Estão no mundo inteiro? Quantas pessoas empregam? O interesse é só comercial? Que ligação haveria entre essa espionagem ingênua e as bombas inteligentes que descobrem onde mora o inimigo e entram sorrateiramente em suas casas detonando tudo? Que relação haveria com os aviões tipo drone, que parecem libélulas predadoras, matando silenciosamente os inimigos em qualquer rua do mundo?

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