Se os Tsarnaev forem os culpados, mostrarão que gente que parece normal é capaz do pior dos crimes
Primeiro, porque ficou evidente que matar é fácil e barato. Bastam uma panela de pressão, um punhado de pregos e rolemãs e disposição para ler na internet como transformar tão prosaicos materiais em uma arma assassina. Simples assim.
Segundo --e mais importante: o terrorista pode ser igualzinho a nós.
O mais jovem dos Tsarnaev, Dzhokhar, 19 anos, chegou a ser descrito como "a alma da festa" por Robin Young, uma mulher cuja profissão (jornalista da Public Radio local) em tese aguça a capacidade de observação. Dzhokhar frequentou festas na casa de Robin sem emitir qualquer sinal de anormalidade.
Impressionava, no noticiário da CNN, o perfil do jovem Tsarnaev, traçado por colegas de escola, professores, amigos, enfim, por qualquer um que tenha tido contato com ele: era um "anjo", como disse o pai.
Uma pessoa do bem, insistiram todos, mesmo após tomarem conhecimento de que Dzhokhar era suspeito dos atentados e estava fugindo após envolver-se em tiroteio no qual morreu um policial. Nessas circunstâncias, o usual é aparecer pelo menos uma pessoa, influenciada pelo climão de caça ao bandido, para contar algum episódio, geralmente menor, que demonstre que, bem feitas as contas, o caçado não era totalmente normal.
O sítio "The Daily Beast" vasculhou os tuítes do que diz ser a verdadeira conta de Dzhokhar (várias contas "fake" foram criadas) e concluiu que tudo indicava um jovem norte-americano normal (e entediado), como milhões de outros.
Famílias de terroristas fanáticos costumam orgulhar-se do que consideram filhos "mártires". Não assim os Tsarnaev, pai e mãe, que disseram acreditar que os filhos foram vítimas de uma "armação".
Uma tia dos jovens, advogada no Canadá, reagiu como reagiria qualquer advogado normal dos EUA: "Quero as evidências", gritou.
Tudo somado, se os atentados tiverem sido obra dos Tsarnaev, irão para a conta de um "great american kid", como um dos colegas ouvidos pela CNN descreveu Dzhokhar.
Como sobram grandes garotos americanos, a sensação de que o perigo mora ao lado (ou até dentro de casa) só faz aumentar.
Ainda mais que, como aponta o sítio de geoestratégia "Stratfor", "é incrivelmente fácil matar pessoas, mesmo para operadores não treinados", como supostamente eram os irmãos Tsarnaev.
"Stratfor" informa também que "a ameaça jihadista' (de guerra santa) deriva agora predominantemente de operadores de base, que vivem no Ocidente, em vez de equipes de operadores treinados enviados aos Estados Unidos de além-mar, como os que executaram os atentados de 11 de setembro".
Ou, como prefere Jonathan Freeedland, colunista do "Guardian": "A verdade é que, no mundo intensamente globalizado de hoje, não podemos mais pensar em qualquer lugar como remoto [como a Tchetchênia ou o Daguestão], porque longe é logo aqui".
crossi@uol.com.br
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