O presidente do Supremo e relator do
mensalão ocupará o lugar que já foi do ex-ministro da Casa Civil,
condenado como operador do esquema: orador da Medalha da Inconfidência
Daniel Camargos
Estado de Minas: 21/04/2013
O microfone em que discursará hoje o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa – o orador
oficial da solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência –, já foi
usado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), condenado a 10
anos e 10 meses pelo STF por comandar o esquema chamado de mensalão. Em
2000, durante o governo Itamar Franco (PMDB), Dirceu, então presidente
nacional do PT, e o então presidente de honra do partido, Luiz Inácio
Lula da Silva, foram os oradores da cerimônia.
Barbosa,
considerado o algoz de caciques petistas, chega a Ouro Preto menos de
uma semana depois da incursão de Lula e da presidente Dilma Rousseff em
Minas Gerais, em que o ex-presidente recebeu o título de Cidadão
Honorário do estado na Assembleia Legislativa, Dilma inaugurou casas e
distribuiu máquinas e equipamentos para prefeitos e os dois comandaram
um seminário sobre os 10 anos do partido no governo federal. Além do
presidente do STF, o senador Aécio Neves (PSDB), pré-candidato do PSDB à
Presidência, também estará hoje no palanque da cidade histórica.
Situação
bem diferente da que ocorria há 13 anos, quando José Dirceu advertiu as
mais de 3 mil pessoas presentes na Praça Tiradentes para a necessidade
de lutar contra o neoliberalismo, criticando o governo do então
presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Nos bastidores, Dirceu
articulava apoios à candidatura de Lula dois anos depois. “Não vamos
dividir a oposição com palavras de ordem”, afirmou à época. Lula disse
em seu discurso: “Este ato deve ser encarado como uma demonstração viva
de que a oposição brasileira precisa se unificar”.
Depois de
ajudar a eleger Lula em 2002, Dirceu se tornou o ministro mais poderoso,
mas perdeu o cargo quando estourou o escândalo do mensalão. No ano
passado, Dirceu foi condenado pelo STF tendo o ministro Joaquim Barbosa
como relator do processo e o mais duro dos juízes.
A cerimônia
que acontece todo dia 21 de abril – em homenagem ao inconfidente Joaquim
José da Silva Xavier, morto em 1792 – ao longo dos tempos vem
refletindo a orientação política do governo mineiro. Se o governador é
alinhado ao presidente da República, a entrega de medalhas tende a ser
tranquila. Porém, se há oposição entre os dois governos, a chance de o
palanque na Praça Tiradentes se transformar em um trampolim político
nacional é maior.
Foi assim no primeiro ano do governo Itamar
Franco. Filiado ao PMDB na época, mas contrário à orientação política de
seu partido, ele fazia uma oposição visceral ao ex-presidente FHC. Em
1999, com moratória decretada, Itamar agraciou líderes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores
(CUT) e da União Nacional dos Estudantes (UNE).
De acordo com a
Polícia Militar, 1,2 mil ônibus lotados foram até Ouro Preto,
transportando 20 mil pessoas. Além dos movimentos sociais, ladeavam
Itamar no palanque Lula, Leonel Brizola (PDT) e Miguel Arraes (PSB),
maiores líderes da esquerda brasileira. “Após 15 anos de festa alinhada
com o governo federal, o Dia da Inconfidência Mineira ganhou o tom
vermelho das esquerdas. O governador Itamar Franco conseguiu o que
queria: transformar a solenidade no maior ato público de protesto contra
a política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso”, publicou
o Estado de Minas no dia seguinte.
Um boneco gigante do então
presidente FHC recebeu a Medalha Joaquim Silvério dos Reis, um dos
delatores dos inconfidentes. “Cultivamos a esperança de que esse homem
resolva renunciar”, discursou Brizola. “Esta não foi uma solenidade
apenas contra FHC, mas em defesa do Brasil, em defesa da nossa
soberania”, fez coro Lula, que sucederia FHC na Presidência.
Isolamento
Durante o governo Eduardo Azeredo (PSDB), em 1997, cerca de 400
policiais impediram que as pessoas se aproximassem do palco, cercando a
praça com um cordão de isolamento. “Alguns manifestantes subiram no muro
da Escola de Minas, tiraram as calças e viraram os fundilhos. Apesar de
pacífica, houve alguns incidentes. Um manifestante atirou um boneco que
satirizava o presidente FHC contra policiais. Ao ser recolhido, a
polícia constatou que estava recheado de bombas garrafinha”, publicou o
EM no dia seguinte.
Também no governo Newton Cardoso (PMDB) a
população intensificou os protestos, principalmente os professores, que
erguiam faixas e bandeiras. “O funcionalismo público, em greve há 15
dias, roubou a festa do bicentenário da Inconfidência, realizada em Ouro
Preto. O governador do estado, anfitrião, foi literalmente execrado em
praça pública e o povo vaiou tudo, até minuto de silêncio”, publicou o
EM.
Medalha
Criada em 1952, durante o
governo de Juscelino Kubitschek, a medalha é entregue no dia 21 de
abril com quatro designações: Grande Colar (Comenda Extraordinária),
Grande Medalha, Medalha de Honra e Medalha da Inconfidência.
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