sábado, 6 de abril de 2013

Eduardo Almeida Reis-Vendedor bissexto‏

O emburrecer da população é diretamente proporcional ao seu crescimento 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 06/04/2013 

Não é fácil vender fazenda, mesmo contando com os serviços dos corretores rurais, cavalheiros singulares que usam botas e chapéus de caubói, tendo o descoco de afirmar que a fazenda corretada é a melhor da região, que, por sua vez, é a melhor do mundo. Tive à venda uma fazenda de 250 hectares em região de terras ótimas, porém muito acidentadas. Numa tarde de sábado, em que churrasqueava com diversos amigos, naquela hora em que todos estão pra lá de Bagdá, “adentrou” o terreiro uma caravana de três velhas Rurais Willys, a primeira com o corretor, a segunda com o chofer, o comprador, sua mulher e o filho do casal, e a terceira com os xeretas que sempre aparecem nessas ocasiões. O comprador, imensamente gordo, parecia um porco e seu filho era um perfeito suídeo. Descendo da Rural, perguntou: “Tem planície?”. Apesar de educadíssimo, acho que lhe disse que fosse procurar planície naquele lugar. Pelo menos, foi o que me contaram os amigos que churrasqueavam.

O suíno, pai, embarcou de volta na Rural e comprou, à vista, uma fazenda a 14 quilômetros da nossa. Era riquíssimo: dono de uma empresa de produtos de limpeza, que ainda existe. Ao fechar a compra da outra fazenda, notou que a água das torneiras era puro barro. O vendedor disse que seria preciso limpar a mina. E ele para seus funcionários: “Primeira providência: limpar a mina”. Acontece que a “mina” era um rio imundo que cortava as terras. Havia séculos que o dono da fazenda trazia água de fora para beber e tomava seus banhos numa fazenda vizinha. Nascido na Inglaterra, não era muito amigo de banhos.


Desbloqueio
Se é que já soube, pergunto ao leitor de Tiro e Queda: você ainda se lembra da data de nascimento da sua bisavó? Sim, porque só faltam pedir o dia e a hora do nascimento da bisavó, quando você telefona para desbloquear um cartão de crédito válido até novembro de 2014. Contando, ninguém acredita. Há que vivenciar o telefonema. O meu durou mais que 10 minutos. Digite os números do seu cartão. Digite os quatro primeiros números do seu CPF. Digite os quatro números do ano do seu nascimento. Ficou faltando o nascimento da bisavó, quando atendeu a doce operadora, educadíssima, querendo saber onde fiz compras com o antigo cartão nos últimos três meses, já então com o titular do cartão sem digitar, mas se expressando em português com razoável dicção. Dia, mês e ano do meu nascimento, sendo que o ano havia sido digitado. E o negócio foi por aí, complementando o suplício da véspera, quando contratei a TV a cabo. Eduardo é fácil, mas bê de burro, erre de rato, a de Antônio, ene de Nair e tê de tamanco o vendedor não entendia de jeito e maneira. Se fosse nas Alagoas, onde abundam Calheiros ilustres, tudo bem, mas em Minas Gerais ignorar o sobrenome Brant é crime de lesa-pátria. Que fazer? Como proceder? Está ficando difícil. O emburrecer da população é diretamente proporcional ao seu crescimento. E a facilidade com que o brasileiro se oferece como pedreiro de acabamento, quando não passa de meia-colher, pode ser confirmada por todos os que construem neste país grande e bobo. Construem, minha gente: é conjugação regular usada em Portugal, onde nasceu nosso idioma.

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