sábado, 6 de abril de 2013

Após deslize, presidente do Uruguai afaga a Argentina


Mujica havia chamado Cristina de 'velha'
SYLVIA COLOMBODE BUENOS AIRESUm dia depois de chamar a presidente Cristina Kirchner de "velha" e seu marido e antecessor, Néstor, de "caolho", o uruguaio José Mujica declarou que "nada nem ninguém poderá separar" a Argentina do Uruguai.
"Uruguaios e argentinos nasceram da mesma placenta", declarou, a uma rádio local. O presidente uruguaio, porém, não pediu desculpas pelas palavras ofensivas que, desavisadamente, proferiu sem saber que estavam sendo transmitidas ao vivo.
"Esta velha é pior que o caolho" ("esta vieja es peor que el tuerto"), disse Mujica em conversa com um prefeito. Referia-se às dificuldades nas relações comerciais com o país vizinho. Acrescentou, ainda, que para aproximar-se da Argentina era necessário dialogar antes com o Brasil.
O episódio teve ampla repercussão na Argentina, provocando desconforto no governo e uma avalanche de manifestações pró e contra Mujica nas redes sociais. "#EstaViejaEsPeorqueelTuerto" virou um "trending topic" no Twitter.
No final do dia, a chancelaria argentina divulgou uma carta em repúdio às palavras de Mujica, mas declarando que estas não abalariam as relações entre os dois países. A presidente Cristina Kirchner não se declarou sobre o assunto.
COMÉRCIO BILATERAL
O Ministério da Economia uruguaio anunciou ontem uma medida para limitar as compras de uruguaios na Argentina.
Nos últimos meses, com o dólar paralelo em alta no país, os uruguaios têm atravessado a fronteira para fazer compras.
Segundo a Dirección Nacional de Aduanas uruguaia, "a situação gerou, nas cidades limítrofes uma legítima preocupação com o comércio local, que poderia redundar na perda de fontes de trabalho".
A medida está sendo chamada de "Quilo Zero", no sentido de que impedirá que as malas viagem mais pesadas no caminho de volta entre Buenos Aires e Montevidéu.

    Países boicotam fala de paraguaio na OEA
    Vinte e um dos 34 países-membros, entre eles o Brasil, não compareceram à sessão com presidente Federico Franco
    Governo paraguaio está isolado desde que houve impeachment de Lugo no ano passado; eleição ocorre em 21 de abril
    DE SÃO PAULOEm mais um movimento para isolar o governo de Federico Franco, 21 dos 34 países-membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) -entre eles o Brasil- decidiram boicotar o discurso do presidente paraguaio na sede do organismo em Washington ontem.
    Todos os 11 países que integram a Unasul, bloco do qual o Paraguai está suspenso desde o impeachment-relâmpago do presidente Fernando Lugo em junho passado, decidiram não comparecer à sessão.
    Segundo a missão do Brasil na OEA, um "conjunto de fatores" levou à decisão de não comparecer à reunião com Franco -entre eles, o fato de considerar não democrático o processo que levou o paraguaio ao poder e as recentes declarações de Franco celebrando a morte do venezuelano Hugo Chávez.
    A missão da Venezuela na OEA chegou a distribuir uma carta às outras representações pedindo para que os demais países boicotassem a sessão.
    Ontem de manhã, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua entregaram um comunicado ao Panamá -que exerce a presidência interina do bloco- em que pediam o "rechaço da organização" às "declarações desrespeitosas que ofenderam a memória do presidente Chávez".
    Em visita a Madri, antes de ir aos EUA, Franco disse ser um "milagre" que Chávez tenha "desaparecido da face da Terra". Segundo ele, o venezuelano "oferecia proteção a grupos criminosos" como o Exército do Povo Paraguaio.
    Os quatro países ainda destacaram no documento que o debate sobre a situação política do Paraguai está "pendente" na OEA. A organização é o único fórum regional em que o governo Franco não foi suspenso.
    PRINCÍPIOS
    Diante dos representantes de apenas 13 delegações -entre elas EUA, México, Canadá e Honduras-, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, elogiou a "liderança" de Franco. "Sua tarefa não tem sido nada fácil, mas você tem se mantido forte em seus princípios", disse Insulza.
    O paraguaio, por sua vez, agradeceu o "apoio da OEA durante o processo de transição" no país. "Vocês [OEA] não se equivocaram ao analisar a situação pela qual atravessa o Paraguai", afirmou Franco, aos poucos presentes.
    Funcionários da OEA chegaram a reorganizar as cadeiras no auditório -geralmente ordenadas pelo nome dos países- para que as ausências não ficassem tão evidentes.
    Para diplomatas que participaram do boicote, o "timing" escolhido por Franco para a visita à OEA -às vésperas das eleições presidenciais em 21 de abril- também contribuiu para o ato de repúdio. Na avaliação desses países, a intenção do paraguaio seria usar a OEA como palanque.
    Ontem, a Argentina -que também não reconhece o governo Franco- se recusou a receber ajuda do Paraguai para as vítimas das enchentes recentes no país. (isabel Fleck)

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