domingo, 28 de abril de 2013

Santuários - Eduardo Almeida Reis


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 Amigo meu tinha fazenda de 900 hectares no entorno do santuário: se pudesse voltar no tempo, mataria os inventores da romaria anual 

Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 28/04/2013 

O inglês sanctuary, no sentido de “lugar seguro”, “área em que os animais silvestres ficam a salvo dos seus predadores”, fez que a mídia brasileira, em anglicismo semântico, na rubrica biologia, passasse a ter uma porção de santuários de cobras, jacarés, maritacas, minhocas, araras, capivaras e outros bichos. Seria mais lógico falar de refúgios ou reservas, considerando que as maritacas, por exemplo, nunca foram santas e as serpentes são isto que a gente conhece.

Mas, porém, todavia, contudo vou falar dos santuários religiosos, lugares, templos ou edifícios consagrados por uma religião – e de suas relações com as fazendas. Dia desses, com a categoria de sempre, Sérgio Rodrigo Reis fez aqui no jornal bela matéria sobre o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, MG, com uma porção de obras do Aleijadinho. É muito visitado pela Páscoa, mas há outro Bom Jesus de Matosinhos, em Werneck, distrito de Paraíba do Sul, RJ, visitado no final de maio, quando o capim-gordura acabou de sementar e está no auge do seu entusiasmo vegetativo, não raras vezes beirando o metro de altura.


Amigo meu tinha fazenda de 900 hectares no entorno do santuário: se pudesse voltar no tempo, mataria os inventores da romaria anual. Isso porque o capim-gordura, além de suas virtudes forrageiras, passa por ter propriedades insetífugas, diuréticas e antidisentéricas, mas no fim de maio tem propriedades amorosas.
Hétero ou homossexuais, os romeiros não resistem às colinas de Werneck e sobem para fazer amor entre as moitas do Melinis minultiflora. Com inveja deles ou por simples divertimento, outros romeiros riscam fósforos no gordura aqui de baixo para desentocar os pares amorosos lá em cima. Fogo de morro acima, água de morro abaixo e as senhoras afinzonas, reza o ditado, nem o diabo segura.


Fim de maio, naquela região, já é tempo seco. O fazendeiro perdia, todo ano, centenas de hectares de pastos e quilômetros de cercas, por mais que treinasse e deixasse de prontidão várias brigadas antifogo.


Auxese

Bonita, inteligente, simpática, feminina, falando e escrevendo muitíssimo bem, se o philosopho disser que a carioca Suzana Herculano-Houzel é uma auxese só ela vai entender. Auxese é sinônimo de exagero e é também divisão celular induzida artificialmente, rubrica citologia, assunto em que a moça é mestra, doutora e pós-doutora.
Bióloga, neurocientista, filha de economista e socióloga, autora de diversos livros que ainda não comprei, mas sei que devem ser ótimos, divulgadora de ciência, ateia, Suzana deu um show no programa Conexão Roberto D’Ávila. Uma semana antes, foi entrevistada no Roda Viva; talvez pelo adiantado da hora, não entendi a diferença entre cérebro e mente, se é que existe. Pergunta feita pelo também brilhante biólogo Fernando Reinach.


Depois do Conexão fui ao site da moça, que tem blog, e-mail, alunos, filhos, marido, faz palestras – é um exagero de competência, melhor dizendo: uma auxese. E mora no Rio, onde é professora da UFRJ, como se fosse possível existir tanto brilho na Ilha do Fundão.


O pior é que existe, como também existe em São Paulo, em Minas e noutros campi. Com essa, o leitor de Tiro&Queda ficou sabendo que sei o plural de campus, motivo mais que suficiente para encerrar este suelto de 202 lexemas, em que auxese vale por mil palavras.

Vozes

Ainda que não pareça, voz é assaz importante na televisão. Aliás, tudo que é assaz tem importância. O Manual de Redação de um jornal paulista proíbe que se use o advérbio, que nos chegou do latim vulgar no século 13. A meu ver, proibição assaz idiota.


Salvo nos casos em que o falante é um gênio – e os gênios não abundam por aí como abunda a pita – cavalheiros e damas de fala feia deveriam ser impedidos de aparecer nas tevês. Mas se metem na telinha, porque o apelo é muito grande.
Nos últimos tempos, por motivos que não vêm a pelo, determinado jornalista não sai da televisão. Fisicamente é um fuinha e sua voz consegue ser pior do que taquara rachada. Escreve razoavelmente e deveria ater-se ao jornal impresso. Na tevê é assaz desagradável.

O mundo é uma bola

28 de abril de 1768: provisão régia reitera a obrigação do cultivo da mandioca nas fazendas do Brasil, em função do número de trabalhadores. No século passado, nosso Ministério da Agricultura tinha uma “Comissão Executiva da Mandioca”.
Em 1927, travessia pioneira do Atlântico Sul feita pelo hidroavião Jahu pilotado pelo comandante João Ribeiro de Barros, nascido em Jaú, SP. Em 1945, Adolf Hitler se casa com Eva Braun num bunker berlinense, sinal de que estava liquidado. No mesmo dia, Benito Mussolini e Clara Petacci, sua namorada (acho “amante” muito forte), são mortos pelos partigiani em Dongo, Norte da Itália.


Em 1947, uma expedição de seis homens parte do porto de Callao, Peru, na balsa Kon Tiki com destino à Polinésia, quase 7.000 quilômetros navegados em 101 dias.


Hoje é o Dia da Caatinga, da Educação e da Sogra, que felizmente não tenho.

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