O Brasil no mata-burro
Erro rudimentar de política econômica faz o país empacar e esquecer de debates mais fundamentais
Entra ano, sai ano, e cá estamos a discutir de novo se a taxa de juros deve subir 0,25 ponto ou 0,5 ponto, em quatro ou oito prestações mensais, ou a perder de vista.
Pior não é a recaída nessa conversinha, mas o filme que deu origem à série de preços em alta e crescimento em baixa.
Lá em 2011 o governo de Dilma Rousseff parecia ter optado por uma combinação razoável de política de gastos públicos e de juros, ao menos da boca para fora: gasto menor, juro menor.
O caldo porém entornou com o Pibinho de 2011. O governo ficou atônito com o baixo crescimento e afobou-se. Juntou a fome com a vontade de comer. Intervencionistas de coração, Dilma & Cia saíram do armário, rasgaram a fantasia de economistas comportados e precipitaram-se a baixar medidas de estímulo e decretos mais ou menos informais de regulação de preços.
Não deu certo. Ao final de três anos, 2011-2013, o Brasil terá crescido uns 2,2%. Poderíamos ter perdido esse tempo na oficina, consertando o carro. Mas continuamos rodando e vamos chegar a 2014 com o motor avariado. No fim das contas, o crescimento ficaria na mesma, mas o carro não bateria pino.
Não haverá desastre. Mas ainda viajaremos no ritmo de carroças.
Não, não se trata de dizer que há receitas únicas em economia, que não precisamos do Estado ou que nossos problemas são apenas macroeconômicos (gasto público, juros, inflação etc). Mas certas misturas, chiclete com banana, uísque na feijoada, não dão certo.
Para começo de conversa, gastar mais, reduzir juros e querer inflação baixa é algo que não faz lé com cré.
Segundo, mas ainda mais importante, é ignorância ou má-fé acreditar que anabolizante é solução para o crescimento; apenas cria uma ilusão que nos impede de pensar em problemas fundamentais.
O Brasil precisa do Estado e de regulações para várias coisas, mas o Estado e normas estão fora do lugar, muita vez no mesmo lugar em que estavam nos tempos da ditadura, da inflação crônica e dos sonhos de autarquia econômica. O mundo mudou, até nós mudamos um pouco, e os móveis cafonas continuam no mesmo lugar.
O Estado dissipa energia e dinheiro engessando a economia, em vez de criar infraestrutura e, menos ainda, de incentivar a criação de novos setores e democratizar as oportunidades econômicas (pequenas e novas empresas comem o pão que o diabo cuspiu).
Recolhemos impostos demais e fazemos dívida para sustentar uma máquina que não funciona, dirigida por gente inepta, administrada de modo disfuncional.
Temos uma estrutura econômica que resultou em empresas que não inovam, associadas de forma oportunista ao Estado, e em que não há incentivos ou meios bastantes de qualificar gente (educação é mais que isso, mas passemos).
Com tanto problema fundamental, a gente se perde num debate primitivo sobre o meio ponto dos juros e politiquice macroeconômica.
Este colunista vai se privar dessa discussão pelas próximas quatro semanas. Estará em férias.
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