RÉPLICA
Resenhista sequer explicou os aspectos que julgou favoráveis
FELIPE FORTUNAESPECIAL PARA A FOLHA
Na resenha sobre "A Mesma Coisa", publicada na "Ilustrada" no último dia 23, pode ter faltado espaço para Luis Dolhnikoff, utilizando menos de 500 palavras, explicar ao leitor por que o longo poema que dá título ao livro exibe "um discurso pouco denso e pouco original sobre a falta de originalidade".
Terei copiado algum poeta ou algum filósofo? Terei trazido ideias pífias sobre o problema da repetição e da mesmice? Ainda que todas as perguntas mereçam um altissonante "sim", o leitor da resenha não saberá o porquê.
Um dos principais eixos do poema diz respeito à ideia de que a vida se mantém e se reproduz por meio de cópias do DNA. O poeta, no entanto, enfrenta o real com metáforas e precisa, na sua expressão, criar objetos originais.
O poeta confronta a gramática, o idioma, a tradição, enfim, os elementos repetidos do seu entorno. E, nas palavras de Luiz Costa Lima, "supõe algo assustador: a mesmice é o fantasma do mundo contemporâneo".
O resenhista não conseguiu sequer explicar os aspectos que julgou favoráveis no meu livro, ao afirmar que "o poema se deflagra e se mantém por si".
Tampouco explicou por que, "no atual estágio da reflexão crítico-poética", um poema como "A Mesma Coisa" "não parece pedir ou suportar a prosa versificada".
Tenho muitas dúvidas sobre se o meu poema é mesmo "prosa versificada" - e deixo a questão para um possível especialista. O que me atrai é a formulação contida em "não parece pedir ou suportar". Parece? Não haveria espaço para uma afirmação contundente sobre o assunto, seguida de justificativas?
Deve ser por semelhante hesitação que, no poema "O Suicida", há "imagens que se pretendem fortes". Mas, afinal, essas imagens são ou não são fortes?
Em relação a "Contra a Poesia", Luis Dolhnikoff cometeu um erro: não escrevi "um poema contra a poesia", mas sim um poema que trata dos discursos de numerosos pensadores que escreveram contra a poesia.
Platão expulsou o poeta da República e considerou a poesia "brinquedo de criança".
Hugo Grotius defendeu "a dignidade superior" da verdade histórica e científica. Isaac Newton considerava a poesia "um tipo de engenhoso nonsense".
Walter Leaf criticava duramente Homero por ter cometido erros em relação a fatos históricos e geográficos. Esse conjunto de ataques - juntamente com a defesa dos poetas - foi trazido ao último poema do livro.
E eu garanto estar do lado dos poetas e não ter escrito contra a poesia.
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