O quiproquó africano, em que a presidente Dilma Rousseff disse o que queria e foi obrigada a engolir o que falou, revela o momento peculiar da política brasileira.
Vitaminada por excelente performance popular, a mandatária foi traída pelo desejo de não ceder aos desígnios do mercado. Depois, contrariada, diante da realidade dos interesses de quem joga com dinheiro, precisou recuar.
Trata-se de mais um episódio no longo braço de ferro que opõem desenvolvimentistas e mercadistas no centro das decisões nacionais. Em agosto de 2011, empurrado pelo recrudescimento da crise globalizada, o Banco Central pegou os agentes financeiros de surpresa e iniciou uma escalada para baixo da taxa básica de juros. Até outubro de 2012 rebaixou a Selic de 12,25% ao ano para os 7,25% atuais, deixando para trás, no país, a marca dos dois dígitos e a condição de campeão mundial do rentismo.
Numa ação coordenada, inexistente no período Lula, no qual o BC rezava por outra cartilha, o Planalto fez a sua parte. Em maio passado, bancou a mudança da remuneração da caderneta de poupança e, em seguida, comprou briga com os bancos privados para obter a redução dos "spreads", ou seja, obrigá-los a cortar na carne. Pouco antes,
para completar, havia realizado uma mididesvalorização do real, tornando o câmbio pouco flutuante.
Em suma, sem alterar as premissas do lulismo, pois nada disso foi realizado com mobilização popular, ocorreu um ensaio desenvolvimentista. Atacou-se os pilares da orientação neoliberal e tentou-se criar as condições para um forte investimento produtivo, sobretudo na indústria. O problema é que o investimento não veio e os resultados, em matéria de crescimento, foram pífios. Pior, na área capitalista só faz crescer a toada de que sem reduzir o custo da mão de obra, leia-se, aumentar o desemprego, o Brasil ficará estagnado.
Diante da decepção com a falta de coragem para investir, da pressão por diminuir o valor do trabalho e de algum soluço inflacionário, a ousadia desenvolvimentista arrefeceu. Em lugar de seguir a necessária redução de juros e do valor do real, vieram do governo medidas privatizantes e desoneração sobre a folha de salários. O experimento ficou no meio do caminho, criando uma situação híbrida.
Os próximos rounds se darão nas reuniões do Copom de abril e, sobretudo, de maio, quando a gritaria para esquecer de vez o desenvolvimentismo e voltar por inteiro à direção antiga será máxima.
Enquanto isso, o mercado já elevou, por conta, os juros futuros. Foram eles que Dilma derrubou com a sua fala desejosa, depois contida, em Durban. O vaivém na África do Sul expressa o choque de poderosas correntes submersas.
Vitaminada por excelente performance popular, a mandatária foi traída pelo desejo de não ceder aos desígnios do mercado. Depois, contrariada, diante da realidade dos interesses de quem joga com dinheiro, precisou recuar.
Trata-se de mais um episódio no longo braço de ferro que opõem desenvolvimentistas e mercadistas no centro das decisões nacionais. Em agosto de 2011, empurrado pelo recrudescimento da crise globalizada, o Banco Central pegou os agentes financeiros de surpresa e iniciou uma escalada para baixo da taxa básica de juros. Até outubro de 2012 rebaixou a Selic de 12,25% ao ano para os 7,25% atuais, deixando para trás, no país, a marca dos dois dígitos e a condição de campeão mundial do rentismo.
Numa ação coordenada, inexistente no período Lula, no qual o BC rezava por outra cartilha, o Planalto fez a sua parte. Em maio passado, bancou a mudança da remuneração da caderneta de poupança e, em seguida, comprou briga com os bancos privados para obter a redução dos "spreads", ou seja, obrigá-los a cortar na carne. Pouco antes,
para completar, havia realizado uma mididesvalorização do real, tornando o câmbio pouco flutuante.
Em suma, sem alterar as premissas do lulismo, pois nada disso foi realizado com mobilização popular, ocorreu um ensaio desenvolvimentista. Atacou-se os pilares da orientação neoliberal e tentou-se criar as condições para um forte investimento produtivo, sobretudo na indústria. O problema é que o investimento não veio e os resultados, em matéria de crescimento, foram pífios. Pior, na área capitalista só faz crescer a toada de que sem reduzir o custo da mão de obra, leia-se, aumentar o desemprego, o Brasil ficará estagnado.
Diante da decepção com a falta de coragem para investir, da pressão por diminuir o valor do trabalho e de algum soluço inflacionário, a ousadia desenvolvimentista arrefeceu. Em lugar de seguir a necessária redução de juros e do valor do real, vieram do governo medidas privatizantes e desoneração sobre a folha de salários. O experimento ficou no meio do caminho, criando uma situação híbrida.
Os próximos rounds se darão nas reuniões do Copom de abril e, sobretudo, de maio, quando a gritaria para esquecer de vez o desenvolvimentismo e voltar por inteiro à direção antiga será máxima.
Enquanto isso, o mercado já elevou, por conta, os juros futuros. Foram eles que Dilma derrubou com a sua fala desejosa, depois contida, em Durban. O vaivém na África do Sul expressa o choque de poderosas correntes submersas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário