Verba adicional prevista para o Ciência sem Fronteiras em San Diego foi negada a pelo menos 4 dos 11 estudantes
Confusão com os limites geográficos da cidade californiana seria o motivo; CNPq afirma que os estudantes têm direito
Os pedidos de recursos adicionais -US$ 400 (R$ 810) por mês- foram negados pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) a pelo menos 4 dos 11 alunos na instituição com essa justificativa.
Em e-mails e ligações, os alunos ouviram do CNPq a mesma resposta: a "cidade" de La Jolla que não consta na lista das 50 que têm direito ao benefício.
Para o Estado da Califórnia, a universidade e todos os serviços oficiais, porém, não há dúvidas de que La Jolla é uma região de San Diego.
"É como dizer que o Morumbi não é parte de São Paulo", diz Kellen Gasque, estudante de pós-doutorado na Califórnia três meses e, até agora, sem o aditivo.
San Diego é uma das cidades mais caras dos EUA, e La Jolla é uma de suas áreas mais abastadas.
"Tudo aqui é muito caro. Para comer, para morar, fazer coisas básicas", completa Marina Scopel, outra aluna aluna de pós-doutorado que não consegue o aditivo.
Temendo não ter suas bolsas renovadas, alguns alunos não quiseram se identificar.
A reportagem teve acesso à troca de e-mails entre um dos bolsistas e o Sebie (serviço de bolsas individuais no exterior) do CNPq
São mais de dez mensagens em que o bolsista argumenta, mandado links oficiais e provas documentais, que Ja Lolla é um bairro, e não uma cidade. Muitas vezes, a resposta era apenas "prezado bolsista, infelizmente não há condições para atender sua solicitação".
Ao cobrar uma justificativa, veio a resposta do CNPq: sua cidade não faz parte das quais recebem o Adicional de Localidade".
"Até carta eu pedi para a responsável pelos intercâmbios escrever, explicando para o CNPq que La Jolla é um bairro. Foi muito humilhante. Passou a ideia de que brasileiro é ignorante", disse ele.
OUTRO LADO
Questionado pela Folha, o CNPq não respondeu objetivamente se considera La Jolla uma cidade independente.
Na primeira das três respostas enviadas à reportagem, o conselho dá a entender que considera se tratar de uma cidade independente, parte da "grande San Diego".
" Há um grupo de trabalho analisando essas questões das regiões metropolitanas das cidades de alto custo."
O órgão afirmou que todos os 11 bolsistas atualmente na Universidade da Califórnia em San Diego têm direito ao benefício, bastando que eles entrem em contato para pedir a inclusão.
Alguns alunos em San Diego já conseguiram receber o aditivo, mas não sem batalhar contra a burocracia.
"Parece que foi uma coisa mais de boa vontade da pessoa que me atendeu", afirma um deles.
Apesar das dificuldades, eles elogiam o Ciência sem Fronteiras como um todo.
A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite do Wilson Center e do Instituto das Américas
Ciência sem Fronteiras já teve caso parecido
DE SÃO PAULO
Em janeiro, atrasos no pagamento dos recursos adicionais de bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras levaram a University of East London a oferecer "empréstimo de emergência" a alunos prejudicados pela demora no repasse do governo.
A situação, revelada pela Folha, se normalizou pouco depois.
As alunas que apareceram na reportagem, no entanto, tiveram de escrever uma carta ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, dizendo que gostariam de continuar no programa.
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