Educadores das cidades-sede dos jogos da
Copa'2014 começam a desenvolver ações de esporte que envolvam
deficientes físicos em escolas, como ocorreu na África do Sul, em 2010
Junia Oliveira
Estado de Minas: 20/04/2013
A
partir de 12 de junho do ano que vem, as atenções do mundo inteiro
estarão voltadas para as telinhas, de olho nas partidas da Copa do
Mundo. Nos gramados, jogadores de 32 países vão suar a camisa para levar
para casa o título mais importante do futebol. E o Brasil, sede do
campeonato, começa bem antes o desafio de fazer do Mundial muito mais
que uma competição apaixonante. O país encara a responsabilidade de
aproveitar o esporte para incluir. No mês que vem, educadores e gestores
das cidades onde ocorrerão os jogos vão entrar em campo com a missão de
desenvolver projetos de esporte nas escolas e possibilitar a
deficientes físicos participar das atividades com os outros alunos, de
igual para igual.
A iniciativa é da Fundação Barcelona, que tem a
intenção de acompanhar, no território brasileiro, o legado social da
Copa, a exemplo do que foi feito na África do Sul. Os trabalhos serão
desenvolvidos pelo Instituto Rodrigo Mendes – uma organização sem fins
lucrativos comprometida com a inclusão por meio da educação e da arte –
em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No
projeto Esporte e Educação Física: Portas Abertas para a Inclusão de
Crianças e Adolescentes, serão capacitados 540 professores. Serão
contemplados docentes de educação física, coordenadores pedagógicos e
monitores do segundo tempo do programa Mais Educação. Até agora, apenas
Goiânia, entre as 12 cidades-sede, está fora do desafio.
Serão
nove escolas de cada município, com três representantes cada uma. As
instituições participantes e os professores serão escolhidos pelas
secretarias municipais de Educação. No dia 9 do mês que vem, haverá a
primeira aula, que ocorrerá simultaneamente em todos os polos. Ao todo,
serão dadas 16 aulas via satélite, que contarão ainda com um ponto de
internet para a interação dos participantes durante as aulas. Elas serão
ministradas todas as quintas-feiras e só serão interrompidas nas
férias. A ideia é trabalhar em sala com uma experiência brasileira e
fazer os educadores mergulharem no tema.
Em outubro, os
parceiros começam a acompanhar os alunos até a abril de 2014, quando
será feito um seminário internacional para a apresentação dos projetos.
“Não se trata de uma proposta de educação física adaptada, mas de fazer a
educação física que inclua os deficientes com os meninos que não têm
qualquer limitação”, explica a coordenadora do Programa de Educação da
Unicef no Brasil, Maria de Salete Silva. A iniciativa tem o apoio das
secretarias de Educação e dos ministérios da Educação e do Esporte. Ela
avisa que, inicialmente a ação será restrita, mas que a ideia é
disseminá-la depois da Copa.
Em Belo Horizonte, a rede municipal
de ensino tem hoje 3 mil alunos com diferentes tipos de deficiência.
Para a coordenadora do Núcleo de Inclusão Escolar da Pessoa com
Deficiência da Secretaria Municipal de Educação, Patrícia Cunha, a
capacitação do projeto da Copa será uma oportunidade de aperfeiçoamento.
“Temos grande expectativa do ponto de vista da qualificação e da
transformação das nossas práticas pedagógicas na área de educação
física”, diz.
Patrícia ressalta que os deficientes são uma
vertente contemporânea da educação e transformadora para a escola, que
está avançando em todas as áreas, mas com muitos desafios. “A prática
esportiva acessível e segura de alunos com e sem deficiência é muito
relevante. Conjugar os dois é uma necessidade do nosso tempo e fará com
que a escola avance. A partir desse aprendizado, esperamos compartilhar
com as outras escolas para que toda a rede aproveite”, destaca.
INICIATIVA PREMIADA Um
dos modelos de BH é o trabalho desenvolvido na Escola Municipal José de
Calazans, no Bairro São Marcos, na Região Nordeste. A instituição tem
22 alunos deficientes, entre cadeirantes, autistas e portadores de
outras síndromes, e 10 em fase de avaliação. Toda adaptada, é exemplo de
acessibilidade e de educação física. A professora Fernanda Pedrosa de
Paula, especialista em atividade física para deficientes e mestranda em
educação voltada para a inclusão, encarou o desafio de encontrar
alternativas de adaptação e ideias para todos os alunos participarem
juntos. Em 2011, ela foi eleita a melhor educadora da América Latina,
com um projeto em que levou o circo para incluir todos na educação
física, usando exercícios de manipulação, acrobacia e equilíbrio. “O
objetivo é que todos participem, independente da habilidade ou
limitação. Minha proposta é de inclusão, mas compartilhada com os
alunos, que podem colaborar, dar ideias e ajudar o colega”, ressalta.
E
o compartilhamento envolve também os outros educadores. A diretora
Sandra da Conceição Silva e Santos conta que a escola foi construída há
12 anos, quando a lei de acessibilidade passou a valer. “Não tivemos
cursos nem fomos preparados para lidar com esses alunos. Eles foram
chegando e os professores buscaram se preparar”, afirma. O resultado não
poderia ser outro: os alunos com necessidade especial se envolvem de
tal maneira que querem cada vez mais desafios.
Prova disso é o
garoto Hederson Dhaniel Vieira Moura, de 10 anos, aluno do 5º ano do
ensino fundamental, um fã das aulas de educação física. Na cesta de
basquete, mais baixa para privilegiar os cadeirantes, ele não desperdiça
oportunidades de marcar pontos. E, com os colegas, mostra muita
intimidade com o esporte. Mas Hederson diz que paixão mesmo é pelo
atletismo. “Tem que ser muito rápido e prestar muita atenção na linha de
chegada e de partida”, ensina a fórmula do sucesso, pensando seriamente
em se tornar astro das Paraolimpíadas. O colega dele, Luiz Felipe
Monteiro de Sousa, de 9, do 4º ano, já sabe o valor da inclusão:
“Brincar com eles não tem diferença. É legal, divertido e, com isso, os
ajudamos a desenvolver”.
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