João Paulo
Estado de Minas: 20/04/2013
O capital, de Karl Marx (1818-1883), não é um livro fácil. Talvez seja até mesmo um dos mais complexos de seu tempo, pela soma de conhecimentos que traz, que exige um leitor informado sobre filosofia, história, economia e política, entre outras disciplinas. Além disso, ao inaugurar um campo do saber, faz uso de um método, a dialética, inspirada na filosofia de Hegel, mas com um foco definido na análise crítica do modo de produção de riqueza baseado no mercado. Em outras palavras: um novo objeto, uma nova ciência e um novo método. A isso se soma o volume da obra, que alcança milhares de páginas em quatro volumes, sendo que apenas no primeiro deles Marx pôs o ponto final.
O lançamento de uma nova edição de O capital – Crítica da economia política, com tradução feita diretamente do alemão por Rubens Enderle, é um passo fundamental no projeto da Editora Boitempo de trazer para o português as obras completas de Marx e Engels. Até agora já foram lançadas traduções de 16 títulos, entre eles dos clássicos A ideologia alemã e Grundrisse, mas com o primeiro volume da opus magnum do pensador, com quase 900 páginas, configura-se um nível de maturidade há muito exigido no âmbito dos estudos marxistas. Como se sabe, até mesmo por razões políticas, as traduções da obra de Marx foram feitas de forma assistemática, muitas vezes de segunda mão, e sem um projeto que abarcasse toda a produção teórica do filósofo.
O primeiro volume tem como subtítulo “O processo de produção do capital”. É obra que cobrou do autor muito tempo de estudo e até mesmo uma parcela de sua saúde. Marx havia se mudado para a Inglaterra em 1862, depois de várias transferências de cidade ocasionadas por sua militância política e na imprensa. No novo país, esperava não apenas aprofundar seus conhecimentos sobre o funcionamento do capitalismo mais avançado de seu tempo, como decifrar suas leis internas. A cena de Marx, afundado por horas seguidas em livros e relatórios no Museu Britânico, enquanto vivia a penúria doméstica, é clássica em todas as biografias. De lá saiu, em 1866, com o livro um finalizado. A primeira edição chegaria aos leitores em 1867, em Hamburgo. Os demais volumes, a partir dos manuscritos de Marx, seriam editados por Engels, depois da morte do amigo da vida inteira.
A edição da Boitempo é amparada ainda por três textos introdutórios, que se complementam. O primeiro é assinado por Jacob Gorender e faz uma apresentação da obra a partir de seus elementos mais significativos, como a gênese histórica, a definição de O capital no âmbito das ciências sociais e uma análise da estrutura interna do livro. O texto seguinte, do filósofo francês Louis Althusser, retoma os argumentos do célebre Ler O capital, que marcou os estudos sobre Marx nos anos 1960, atentando para as principais dificuldades teóricas da leitura da obra. Por fim, em “Considerações sobre o método”, José Arthur Gianotti analisa a dimensão filosófica de O capital. Completam o volume prefácios das quatro primeira edições, cartas de Marx (uma delas inédita, dirigida a Vera Ivanovna Zasulitch, sobre a perspectiva do desenvolvimento na Rússia e a possibilidade da revolução no país), além de cronologia que interliga momentos da vida do autor com fatos políticos e culturais de seu tempo.
Tamanho esforço para levar o livro aos leitores contemporâneos evoca uma questão: O capital ainda teria o que dizer ao mundo de hoje? Não se trata de pergunta retórica. Tantas vezes sepulta, a obra de Marx parece retornar em momentos de crise. Sempre que se levantam os coveiros da história, das ideologias e das utopias, a primeira vítima quase sempre é Marx, que ganha a caricatura de um homem de outro tempo, a teorizar sobre um sistema econômico que foi capaz de vencer todas as crises e derrubar todos os muros. No entanto, basta que a roda da história volte a girar, seja em protestos políticos ou crises reiteradas do capitalismo, com suas consequências cada vez mais reais e próximas, para que o pensamento marxista evidencie sua significação. Não se trata de dizer que Marx estava certo ou errado, mas que seu pensamento ainda ajuda a entender os problemas atuais.
Por isso, além da análise econômica e da criação do materialismo histórico, a obra de Marx avulta em força pelo estilo e argumentação. O capital, com seu sólido e intrincado edifício argumentativo e analítico, talvez não seja a mais palatável das obras marxistas, mas não deixa de trazer ao leitor determinado o prazer de encontrar a força da ironia e até mesmo as referências literárias clássicas, tão ao gosto do filósofo (que na juventude quis ser poeta). Além disso, algumas passagens parecem compostas a partir de personagens reais. Como destacou o americano Marshall Berman, em Aventuras no marxismo: “O que torna O capital tão fascinante é que, mais do que qualquer outra coisa que Marx tenha escrito, o livro traz à tona sua visão da vida moderna como totalidade. Essa visão está espalhada sobre uma imensa tela: mais de mil páginas só no primeiro volume; centenas de personagens – mineiros e meeiros, donos de loja e donos de moinho, poetas e panfletistas, médicos e religiosos, pensadores e políticos, anônimos de mundialmente famosos – falando com voz própria”.
Esforço de leitura Mas é preciso também deixar claro que se trata de obra que exige estudo. No Brasil, ficaram conhecidos, a partir dos anos 1960, diversos seminários de leituras que atravessaram a década, em que o foco era a leitura de O capital, atentando para suas dimensões teóricas e práticas. Esse esforço de leitura – já que a obra tem seus momentos de aridez – gerou uma forte tradição de interpretação da obra de Marx, que se espalhou em diversos departamentos universitários. O que pode ser interpretado como vitalidade da academia, muitas vezes ganhou oposição ferrenha, sobretudo em razão de leituras por vezes ortodoxas demais e, em outros momentos, exageradamente marcadas pelo jargão de escolas concentradas em torno de pensadores com vocação para guru. Não se pode deixar de salientar os que, por idiossincrasia ou ideologia, “não leram e não gostaram” de O capital, considerado por eles um livro sobre equívocos, cuja leitura devia ser evitada. Esses, que Francisco de Oliveira chama de “sicofantas do liberalismo”, talvez tenham perdido boas chances de vestir a carapuça com os sarcasmos que Marx esparge em O capital.
Vencidas as 900 páginas do primeiro volume, o leitor certamente entenderá melhor o mundo em que vive. Mas o maior mérito do livro, independentemente da radiografia do modo de produção capitalista, talvez seja abrir os olhos para o pensamento marxista. Não no sentido de convencer as pessoas a se filiarem às hostes da esquerda, mas de alargar seu espírito para os demônios que habitam o cotidiano das relações alienadas e consumistas de nosso tempo. Muitos vão se surpreender com Marx. Um pensador que falava tanto da exploração do trabalho porque apostava que o melhor do homem era a poesia; que não perde tempo em apontar a sociedade perfeita (sua atenção era para a imperfeição do que via à sua volta); que se afundou nos estudos de economia exatamente para reduzir sua importância na vida da sociedade; que via no socialismo a continuidade da tradição de liberdade e conquista dos direitos civis. O próprio Marx, certa vez, afirmou que não era marxista.
O que o livro oferece ainda ao leitor é a abertura à posteridade criada por ele. Boa parte do pensamento social, cultural e político contemporâneo só é plenamente compreensível a partir da leitura de Marx e, entre suas obras, sobretudo de O capital. É desse monumento da inteligência humana que brotam a social-democracia europeia, as diversas experiências revolucionárias do século 20 (inclusive para se acercar de seus descaminhos), filosofias como a teoria crítica da Escola de Frankfurt, algumas correntes da psicanálise que analisam o papel repressor da cultura, os estudos culturais, os críticos da globalização e até aqueles que concordam com os defeitos do capitalismo, na vertente keynesiana, em tudo oposta ao marxismo.
Quem se aferrar nas profecias fanadas vai perder o melhor de Marx, como de resto de todos os pensadores. Os que, no entanto, vivem com a sensação de que “tudo que é sólido se desmancha no ar” podem encontrar um parceiro na pesquisa profunda das causas desse infeliz e tacanho modo de estar no mundo. Enquanto outro mundo possível não vem.
O CAPITAL
• De Karl Marx, tradução de Rubens Enderle
• Editora Boitempo
• 896 páginas, R$ 98
As ideias e as palavras
Tradutor de O capital explica os desafios enfrentados na versão do texto de Karl Marx para o português, entre eles a necessidade de manter a precisão conceitual, e fala dos planos da publicação integral da obra
Rubens Enderle
A tradução de O capital apresenta vários desafios. Em primeiro lugar, o tradutor precisa primar pela precisão conceitual. Marx emprega conceitos que, à primeira vista, podem parecem sinônimos, porém possuem um significado muito distinto. Por exemplo, é preciso preservar a distinção sutil entre termos como “mais-trabalho” (Mehrarbeit), “sobretrabalho” (Überarbeit) e “trabalho excedente” (Surplusarbeit). Há também conceitos de caráter filosófico, dotados de uma forte carga hegeliana, conceitos que o próprio Marx utilizara em suas obras juvenis, como, por exemplo, “alienação” (Entäusserung, Entfremdung), “estranhamento” (Entfremdung), “determinidade” (Bestimmtheit), “suprassunção” (Aufhebung), “materialidade” (Materiatur) etc. Nesse caso, a dificuldade é saber se esses termos são empregados em O capital com o mesmo sentido que apresentavam em Hegel ou nas obras anteriores de Marx, ou se possuem ali um significado diferente. Para isso, é necessário um bom conhecimento de Hegel e do assim chamado “jovem Marx”, além de uma cuidadosa análise de cada termo em seu contexto específico. Em minha tradução, apresento todos os conceitos mais importantes seguidos do original (entre colchetes), além de um glossário de conceitos no apêndice.
Um último exemplo sobre o desafio da precisão conceitual: no item sobre o “caráter fetichista da mercadoria”, Marx emprega diversas vezes a palavra sachlich, um adjetivo/advérbio que significa “relativo a coisa”. Como falta ao português palavras como “coisal”, “coisalmente”, esse termo é geralmente traduzido por “material”, “materialmente”. Marx emprega esse termo em oposição a persönlich (pessoal). Ocorre que, para Marx, as relações pessoais, mesmo aquelas livres do “estranhamento”, são relações também materiais, de modo que o problema não está em que, no sistema da produção de mercadorias, as pessoas passam a se relacionar “materialmente” (pois isso elas fazem necessariamente em qualquer sociedade), mas sim que elas se relacionam como “coisas”. Em alguns casos, isso é possível de solucionar com o emprego de “reificado(a), reificadamente”, mas em outros não. Em minha tradução, indico todas as ocorrências desse termo (colocando o original após a tradução) e insiro notas para explicar essas nuances.
Um segundo desafio é transitar entre os diversos estilos da obra. O livro 1 de O capital é uma obra altamente eclética do ponto de vista estilístico. Há passagens de tom mais filosófico, como o conhecido capítulo sobre “o caráter fetichista da mercadoria”, outras de caráter mais analítico, de dissecação da realidade, outras com longas seções de contabilidade que põem à prova a paciência e resistência do leitor, além de uma grande parte de forte caráter narrativo, dedicada à descrição das condições da classe trabalhadora inglesa, em grande parte baseada na obra de Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.
Em algumas passagens, Marx adota um estilo mais literário, e chega a construir personagens (como o do beberrão vendedor de Bíblias) ou diálogos imaginários entre um trabalhador e um capitalista. Além disso, ele se utiliza, em seus exemplos, de vários personagens literários célebres, como Robinson Crusoé, Shylock, Fausto, Dom Quixote, entre outros, e faz inúmeras outras referências literárias. Mas isso só aparece em algumas passagens, em meio a capítulos de tom completamente distinto. Portanto, não acredito que se possa falar do livro I de O capital como uma obra dotada de um estilo literário definido. Isso pode ser encontrado em outras obras de Marx, como em O 18 de brumário de Luís Bonaparte ou no Manifesto comunista.
Mega e MEW Acompanhei por dois anos o trabalho de editoração da Marx-Engels-Gesamtausgabe (Mega), em Berlim. Lá tomei conhecimento dos critérios filológicos que orientam o projeto e as várias etapas da edição dos manuscritos, desde a decifração dos escritos (na caligrafia terrível de Marx) até a composição do aparato crítico. Os volumes da Mega reproduzem os textos de Marx em sua forma original, usando uma elaborada técnica filológica. Quando se trata de manuscritos, a edição da Mega transcreve todas as camadas de composição do texto, as anotações marginais, até rabiscos aparentemente acidentais. É uma filologia cirúrgica, extremamente meticulosa.
Esse período influenciou muito o trabalho de tradução, pois minha preocupação como tradutor é permanecer o mais fiel possível aos textos, o que, no caso de Marx, implica se desvencilhar de chavões e vulgaridades ideológicas que se acumularam sobre sua obra ao longo de séculos. Daí a importância da edição da Mega para o estudo de Marx como ele realmente é, e não em suas diversas caricaturas ideológicas. Por outro lado, isso não implica tentar salvar Marx das inúmeras contradições e inconsistências de sua teoria econômica, como aquelas denunciadas (e até hoje não respondidas – e, pessoalmente, acredito que sejam irrespondíveis – pelos marxistas de modo satisfatório) pelos economistas da “escola austríaca”, como Böhm-Bawerk e Ludwig von Mises.
No caso do livro 1 de O capital (a 4ª edição), a edição da Mega não traz muitas novidades em relação à edição da Werke (MEW), pois o livro 1 foi editado ainda durante a vida de Marx, e ganhou mais duas edições depois de sua morte. Portanto, o texto-base da Mega é praticamente o mesmo da MEW, com exceção das notas da edição, que em alguns casos suprem lacunas da MEW. Há, certamente, outras vantagens da edição da Mega em relação à da MEW: por exemplo, a Mega traz no seu volume de apêndice todas as passagens da edição francesa de O capital que não foram incorporadas por Marx na edição alemã. Seria interessante apresentar isso ao leitor brasileiro, mas não foi possível incorporar essas passagens em nossa edição, já que isso tornaria o volume grande demais (na verdade, exigiria desmembrar o livro em dois volumes, o que é desfavorável do ponto de vista comercial).
A grande diferença se encontra nos livros 2 e 3, que Marx deixou na forma de manuscritos (montados por Engels naquilo que hoje conhecemos como livros 2 e 3 de O capital). A Mega, além da versão de Engels, edita os manuscritos em sua integralidade, o que revela enormes diferenças em relação à montagem feita por Engels. Em minha tradução dos livros 2 e 3 do Capital, serão incluídas as variantes mais importantes (por mim selecionadas) dos manuscritos. Trata-se, portanto, de um trabalho não só de tradução, mas de pesquisa em mais de 2 mil páginas de manuscritos. O livro 2 deve sair no início de 2014, e o livro 3 em 2015.
A tradução dos livros 2 e 3 é, por um lado, mais fácil que a do livro 1, pois você se habitua com o vocabulário e a tradução dos conceitos fundamentais já está estabelecida. Por outro lado, é muito mais difícil na medida em que exige um árduo trabalho de pesquisa para estabelecer o texto final, incorporando as variantes dos manuscritos.
Rubens Enderle é mestre em filosofia pela UFMG e tradutor de O capital, Crítica da filosofia do direito de Hegel, Ideologia alemã e Guerra civil na França, todas de Karl Marx. Atualmente vive na Alemanha e faz doutorado na Universidade Ludwig-Maximiliam sobre um crítico radical de Marx e contrário ao marxismo em geral, Eric Voegelin. Trabalha na tradução da obra
Divã Ocidental-Oriental, de Goethe.
Por que ler O capital hoje?
O capital, de Karl Marx, apesar de ser uma obra escrita no século 19, apresenta atualidade indiscutível. Seu maior mérito é o de desenvolver uma análise crítica e detalhada do capitalismo, considerando sua dinâmica e seus fundamentos econômicos. Como toda obra clássica, ultrapassa o tempo de sua produção. Tal fato, todavia, não exime o leitor de lê-la em uma perspectiva histórica.
As análises apresentadas em O capital evidenciam sólida historicidade e iluminam a compreensão das crises cíclicas do capitalismo, inclusive a que o mundo hoje presencia. O capital não é um livro destinado somente aos adeptos do socialismo. Ao contrário, apesar de sua densidade e complexidade, deve ser lido por todos que querem compreender o funcionamento da economia capitalista. Explica como nenhuma outra obra publicada até os dias presentes a transformação do dinheiro em capital, a extração do lucro, a circulação do capital, a internacionalização da economia, o valor trabalho e os conflitos sociais inerentes ao que o marxismo denomina modo de produção capitalista.
O capital é um tratado holístico, pois aborda problemas vastos e interconectados. Integra o elenco das principais obras do pensamento filosófico, econômico e social da humanidade. É imprescindível para a compreensão do mundo em que vivemos, onde convivem, no plano internacional, dois tipos de cultura de base econômica: a financista do lucro fácil e a consumista dos prazeres voláteis.
Lucilia de Almeida Neves Delgado, historiadora e professora da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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Ao longo de todo o século 20, a morte de Marx e de seu legado teórico foi anunciada repetidas vezes, ora por seus adversários – filósofos, políticos, economistas –, ora mesmo por aqueles que até anteontem professavam o marxismo. O simples fato de que o anúncio foi repetido periodicamente revela que o defunto teima em não se deixar sepultar. De fato, a partir de 2008, a crise econômica nos EUA e na Europa provocou um interesse renovado pela leitura das obras de Marx: jornais como o New York Times e The Times têm falado de um “retorno a Marx” e até mesmo a insuspeita revista Time reconheceu em matéria recente a “vingança de Marx” sobre seus adversários.
Se é óbvio que o capitalismo contemporâneo é, em alguns aspectos, distinto daquele que havia no século 19, não é menos verdade que sua natureza fundamental continua a mesma. O capitalismo é, como Marx mostrou de modo pioneiro, um sistema econômico expansivo e inexoravelmente propenso a crises. O capitalismo ainda é aquele examinado por Marx e O capital é, de longe, a melhor análise já feita sobre as estruturas fundamentais do capitalismo, suas determinações essenciais, “as leis econômicas que regem o movimento das sociedades modernas”. Por essa razão, ler O capital continua importante e atual, leitura que é incontornável para quem quiser entender as questões do nosso tempo.
Hugo E. A. da Gama Cerqueira, professor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar UFMG).
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A situação em que vive a humanidade em pleno século 21 é aviltante. Estamos longe dos ideais de progresso e desenvolvimento humano. Ainda mais distantes dos ideais de justiça e solidariedade. Em tempos de redes sociais virtuais, a sociabilidade parece algo fugidio. Os laços que nos unem estão frouxos ou ausentes. A dor do outro já não nos toca.
O capital, de Marx, buscou compreender, nos clássicos da economia e da política, o modo de funcionamento do sistema capitalista. Não há conhecimento nesses campos, produzido posteriormente ao livro, que tenha escapado do diálogo com ele. O motivo é simples. Em O capital encontramos destrinchada a lógica de funcionamento do sistema, as origens de suas inevitáveis crises, a busca incessante pelo lucro, a produção da mais-valia, a escravização da classe trabalhadora, o imperialismo, a impregnação de toda vida social com o individualismo e o consumismo.
Mas, ainda mais importante, o livro desmonta o sistema capitalista como construção histórica, deixando em aberto o caminho para que a humanidade se reorganize segundo outra lógica. O capital precisa ser lido e relido por todos, e, em especial, por aqueles sinceramente comprometidos com os ideais de mudança. A partir da compreensão, a ação se faz necessária, outro ensinamento fundamental de Marx.
Frederico Santana Rick, cientista social e militante da Assembleia Popular e das pastorais sociais.
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