Estado de Minas: 05/05/2013
Já que Cachoeiro do
Itapemirim e todo o Brasil comemoram o centenário de Rubem Braga, parto
de uma frase dele, hoje muito conhecida: “Sou do tempo tempo em que a
geladeira era branca e o telefone era preto”.
Então lhe digo:
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.
A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse roubar aquilo.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que não havia guardas nas portas dos bancos, nem dentro. Não havia casamatas no interior das casas bancárias. Você entrava e saía livremente. Assaltos a bancos eram coisas de filme americano.
Você pode não acreditar: não havia carro forte blindado, aqueles seguranças superarmados para recolher dinheiro, nem se anunciava aos ladrões que a chave do cofre não estava com o chofer ou que o carro estava sendo seguido por satélite.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às suas casas.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que um homem de bem não assinava promissória, bastava tirar um fio de seu bigode e aquilo valia como promessa de pagamento no prazo ajustado.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os jovens tinham que estar em casa às dez da noite.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era sinal que já estava praticamente noivo e seguro.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os filhos chamavam os pais de senhor e senhora, pediam a bênção e até beijavam-lhes a mão.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o professor ou professora quando entrava na sala de aula os alunos se levantavam e ficavam ao lado das carteiras para recepcioná-lo(a).
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que nos colégios mistos as moças sentavam-se nas carteiras da frente e o recreio feminino era separado do recreio masculino; os adolescentes ficavam se olhando à distância.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o tio ou um irmão mais velho levava sempre o jovem ao que se chamava rendez-vous, para uma iniciação erótica.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que a iniciação erótica dos rapazes era com a empregada doméstica ou da fazenda. E as moças, contando raríssimas exceções, tinham que esperar mesmo pelo casamento.
Houve um tempo em que havia tempo.
Houve um tempo.
Então lhe digo:
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.
A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse roubar aquilo.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que não havia guardas nas portas dos bancos, nem dentro. Não havia casamatas no interior das casas bancárias. Você entrava e saía livremente. Assaltos a bancos eram coisas de filme americano.
Você pode não acreditar: não havia carro forte blindado, aqueles seguranças superarmados para recolher dinheiro, nem se anunciava aos ladrões que a chave do cofre não estava com o chofer ou que o carro estava sendo seguido por satélite.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às suas casas.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que um homem de bem não assinava promissória, bastava tirar um fio de seu bigode e aquilo valia como promessa de pagamento no prazo ajustado.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os jovens tinham que estar em casa às dez da noite.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era sinal que já estava praticamente noivo e seguro.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os filhos chamavam os pais de senhor e senhora, pediam a bênção e até beijavam-lhes a mão.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o professor ou professora quando entrava na sala de aula os alunos se levantavam e ficavam ao lado das carteiras para recepcioná-lo(a).
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que nos colégios mistos as moças sentavam-se nas carteiras da frente e o recreio feminino era separado do recreio masculino; os adolescentes ficavam se olhando à distância.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o tio ou um irmão mais velho levava sempre o jovem ao que se chamava rendez-vous, para uma iniciação erótica.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que a iniciação erótica dos rapazes era com a empregada doméstica ou da fazenda. E as moças, contando raríssimas exceções, tinham que esperar mesmo pelo casamento.
Houve um tempo em que havia tempo.
Houve um tempo.
A mais pura e saudosa verdade!
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