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Conta que não fecha na velhice
Estudos indicam que apenas 1% dos brasileiros conseguem arcar com seus próprios custos depois
da aposentadoria. E os que têm planos de previdência privada não passam de 6% da população
Marinella Castro
e Zulmira Furbino
Estado de Minas: 05/05/2013
Jane
Maria Machado tem 62 anos, é cardíaca e aposentou-se por invalidez com
benefício de um salário mínimo. Mensalmente, ela gasta R$ 1.431,31
comprando medicamentos. A quantia que recebe como aposentadoria, R$ 678,
é menos de metade do que ela precisa para comprar os remédios de que
necessita para o tratamento do coração. Sem a ajuda do filho mais velho,
seria impossível manter o tratamento e pagar despesas com alimentação,
roupas, transporte e moradia. Em 2014, o garçom Clóvis Luiz Nascimento
completa 35 anos de contribuição ao INSS. Vai se aposentar com benefício
próximo a dois salários mínimos. A renda não será suficiente para
manter uma família com três filhos e dois netos, pois os gastos mensais
serão maiores do que o valor da aposentadoria. Para continuar com as
despesas em dia, ele permanecerá trabalhando.
Os dois casos
acima retratam a precariedade da situação dos brasileiros diante de sua
aposentadoria. Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida
(FenaPrevi) mostram que apenas 6% da população brasileira – cerca de 12
milhões de pessoas – têm plano de aposentadoria privada. O panorama
geral é preocupante tendo em vista que, segundo pesquisa realizada pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a pedido da Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC Brasil), nada menos do que 61% da população brasileira não
tem nenhuma aplicação financeira que garanta o seu futuro.
O
problema é que fazer investimentos e planejar a aposentadoria ainda não é
um hábito do brasileiro. Nos últimos anos, a população ganhou renda e
ascendeu na sociedade de consumo, mas somente 15% da população
economicamente ativa do Brasil tem poupança a longo prazo, com foco na
velhice. “Só 1% dos brasileiros conseguem se financiar depois da
aposentadoria”, garante Tharcísio de Souza, diretor do curso de MBA da
Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), que realizou cruzamentos
estatísticos com os números do IBGE. De acordo com ele, 52% dos que
mantêm aplicações financeiras em bancos são das classes A e B. Entre os
mais pobres – classes C e D – esse percentual é bem menor, apenas 29%.
“O pé de meia é o melhor amigo do aposentado brasileiro”, alerta
Tharcísio de Souza.
POUPANÇA Para obter rendimentos equivalentes
adicionais ao benefício do INSS no valor de um salário mínimo, um homem
de 25 anos terá que poupar R$ 40,92 ao mês até os 65 anos e uma mulher
da mesma idade R$ 84,02 até os 60 anos. Se tiver 35 anos, para alcançar a
mesma quantia um homem deverá guardar R$ 78,05 ao mês e uma mulher R$
162,56. Quando o número de aniversários sobe para 45, a quantia mensal a
ser poupada para o sexo masculino é de R$ 167,59 e para o feminino R$
371,51. Os cálculos foram feitos pelo professor Ivan Sant’Ana Ernandes,
da Atest Consultoria Atuarial, e tomam como base o rendimento médio
mensal dos brasileiros no trabalho, que, segundo a Pesquisa Mensal do
Emprego, está na casa de R$ 1.849.
Para chegar a eles, o
especialista levou em conta as probabilidades de sobrevivência do
contribuinte desde a idade atual e até a idade de início do benefício.
Foram considerados o início de pagamento do benefício aos 60 anos para
mulheres e 65 anos para homens, a tábua de mortalidade IBGE 2010
(segregada por gênero), uma taxa real de juros de 5% ao ano, além de 12
pagamentos ao ano para a poupança e para o recebimento da renda. Aos 65
anos, a tábua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
estima sobrevivência média dos homens por mais 16,37 anos, tempo pelo
qual receberão a renda. Aos 60 anos, a mesma tábua estima para as
mulheres sobrevivência média de 22,97 anos.
De acordo com Osvaldo
Nascimento, presidente da FenaPrevi, proporcionalmente à renda média da
população, a previdência social brasileira tem o teto mais alto do
mundo. O problema é que esse modelo não se sustenta a longo prazo, já
que à medida que a população envelhece menos pessoas contribuem para
bancar os que dependem da previdência, cujas contas tendem a se
deteriorar.
enquanto isso...
…plano misto a caminho
Duas
coisas estão levando os brasileiros a fazer um plano de previdência
privada: o desejo de manter o poder aquisitivo depois da aposentadoria e
a necessidade de bancar os gastos com saúde. Diante disso, a FenaPrevi e
a Superintendência de Seguros Privados (Susep) deverão lançar no início
do segundo semestre o VGBL Saúde, um plano de previdência privada de
caráter misto. O usuário pode usá-lo para pagar o seu plano de saúde,
com incentivos fiscais. Se não precisar de seguro saúde, o dinheiro
acumulado poderá ser usado como complementação de renda, pagando os
impostos previstos.
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