Bactéria que causa pneumonia, septicemia e
meningites tem maior incidência nesta época do ano. Vacina é uma das
formas de prevenir os males
Elian Guimarães
Estado de Minas: 05/05/2013
As doenças
pneumocócicas, que têm a incidência aumentada no outono e no inverno,
são responsáveis por 1,6 milhão de óbitos a cada ano em todo o mundo,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atingindo com maior
frequência crianças menores de 5 anos e idosos. Estima-se que a
pneumonia cause a morte de uma criança a cada 20 segundos. Na América
Latina, a doença é a terceira causa mais comum de mortes entre adultos
acima de 65 anos e, no Brasil, é a segunda doença respiratória mais
comum. A infecção nos pulmões está entre as três principais causas de
morte em todas as idades no mundo, atrás apenas das cardíacas e as
cerebrovasculares.
Doenças pneumocócicas são enfermidades
complexas e conjugam um grupo de outras doenças causadas pela bactéria
Streptococcus pneumoniae, também conhecida como pneumococo. Já foram
identificados mais de 90 sorotipos, porém apenas um pequeno subgrupo
causa a maioria das doenças relativas à bactéria em todo o mundo.
O
pneumococo pode se colonizar nas vias respiratórias superiores causando
vários tipos de doenças pneumocócicas invasivas (DPIs), nas quais as
bactérias entram na corrente sanguínea do paciente. Entre as mais
conhecidas e agressivas estão a bacteremia/septicemia (infecções
bacterianas do sangue), a meningite (inflamação da membrana que cobre o
cérebro e a medula espinhal), a pneumonia bacterêmica e empiemia
(acúmulo de pus na cavidade em torno dos pulmões).
A bactéria S.
pneumoniae pode se propagar também pelo nariz e pela garganta até o
trato respiratório inferior (garganta) e ouvido, resultando em doenças
pneumocócicas não invasivas, como a pneumonia e a otite média (infecção
na orelha média).
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI), Renato Kfouri, a vacinação contra o pneumococo é a
forma mais segura e eficaz de prevenção contra a pneumonia. “As medidas
preventivas são mais eficazes e têm custos menores do que o tratamento
que envolve uso de antibióticos, hospitalizações e a presença de
familiares para cuidar dos pacientes. As primeiras vacinas desenvolvidas
dispunham de um único sorotipo, o que não estimulava uma resposta
imunológica de longa duração”, explica o médico. A partir daí surgiram
as vacinas conjugadas, como já existem para outras doenças, como a
tríplice, que é quando se acopla cada cápsula do sorotipo a uma
proteína, fazendo com que a resposta seja mais eficaz.
Um
carregador proteico faz com essa proteína se modifique e se torne mais
robusta na resposta da memória imunológica, no nível de anticorpos, e na
duração de sua eficácia. Dessa forma, então, as vacinas foram
licenciadas primeiro nas crianças, população que mais sofria com essas
doenças e posteriormente em adultos. “Os primeiros países a usá-las
mostraram que vacinando as crianças as bactérias deixavam de circular
nas comunidades, diminuindo as doenças entre os adultos e jovens. São as
chamadas imunidades de rebanho”, acrescenta, Kfouri.
GRUPOS DE MAIOR RISCO Para
o infectologista, é preciso imunizar os grupos de maior risco, como os
extremos em idade: os pequenos por estarem em processo de formação
imunológica e os mais velhos pelas deficiências da idade, que os tornam
mais vulneráveis. E ainda os portadores de doenças crônicas como os
transplantados, asmáticos, portadores de cirrose que se submetem à
diálise, diabéticos e cardiopáticos.
De acordo com o geriatra e
cardiologista Roberto Dischinger Miranda, diretor clínico e vice-chefe
do Departamento de Gerontologia e Geriatria da Escola de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a população brasileira,
seguindo uma tendência mundial, vem envelhecendo com a diminuição da
taxa de nascimentos e o aumento da expectativa de vida “e é preciso que
nos preparemos para essa nova realidade”. Esse grupo de pessoas tem
tendência em adquirir doenças crônicas e infecto-contagiosas.
Para
Miranda, o Brasil desenvolve inúmeras iniciativas no sentido de
melhorar a qualidade de vida da população, o que ainda não tem sido
suficiente para enfrentar algumas questões relacionadas à saúde e é
preciso “mais iniciativas para atender essa população idosa.”
“Muitas
vezes o paciente com pneumonia ou gripe geralmente se interna por uma
complicação cardiovascular”, explica Dischinger, e as iniciativas
tomadas têm sido principalmente a vacinação contra gripe, ação em que o
Brasil consegue uma cobertura muito boa. As campanhas de vacinação têm
obtido resultados muito positivos.
Roberto Miranda alerta que no
caso de idosos é comum haver infecção sem febre e ela pode sinalizar
por meio de outros sintomas como tosse ou pigarro: “O que é preciso é
identificar mudanças nos padrões de tosse, na coloração do pigarro ou
sua quantidade e também falta de ar e até mesmo confusão mental podem
ser indicativos de alguma infecção”. Dores nas costas e na região do
peito, diminuição de apetite e taquicardia também são sintomas a serem
observados, segundo o médico.
Apesar da gravidade da doença, a
maioria da população não sabe que é possível preveni-la por meio da
vacinação, tampouco identificar rapidamente seus sinais e sintomas. O
diagnóstico precoce é fundamental para o efetivo tratamento desta
infecção. Entre os adultos, é mais comum adiar a procura por auxílio
médico.
Imunização indicada para maiores de 50 anos
Publicação: 05/05/2013 04:00
Uma vacina contra as
doenças pneumocócicas – a Prevenar 13 – foi apresentada à comunidade
médica durante a Conferência Latinoamericana de Enfermedad Neumocócica,
ocorrida entre os dias 9 e 11 de abril, na Cidade do Panamá. A vacina
conjugada 13-valente (pois contém 13 sorotipos mais prevalentes da
doença em todo o mundo) foi aprovada terça-feira no Brasil pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é indicada para adultos a
partir dos 50 anos. Produzida pelo Laboratório Pfizer, a dose previne as
infecções causadas pelo pneumococo. Por aqui, a Prevenar 13 já era
indicada para a proteção contra as doenças pneumocócicas em lactentes e
crianças de seis semanas até seis anos de idade incompletos.
Segundo
a pediatra médica assistente da Unidade de Alergia e Imunologia do
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, Ana Paula Moschione, o brasileiro tem o
costume de orientar suas vacinas e de sua família a partir do calendário
oficial do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da
Saúde. “Nosso programa é bom e está se ampliando a cada dia, mas ainda
não atende todas as necessidades. Existem algumas vacinas que estão
disponíveis apenas na rede particular, sobre as quais vale a pena os
pais se informarem”, diz.
Para Ana Paula, essas vacinas são
interessantes por ser mais amplas (protegerem o organismo contra
sorotipos de vírus ou bactérias que não estão presentes nas vacinas
disponíveis no PNI), como a Prevenar 13 e a vacina pentavalente contra o
rotavírus, ou porque previnem contra doenças que não constam no
calendário nacional de imunização, como a proteção contra o HPV. (EG)
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