domingo, 5 de maio de 2013

Minha História - Flávia Flores,35


Químio, batom e cílios postiços
Ex-modelo cria página em rede social na qual posta 'looks' que usa para ir à quimioterapia e dá dicas de maquiagem e acessórios para mulheres com câncer
HELOÍSA NEGRÃOEDITORA-ADJUNTA DE NOVAS PLATAFORMASFiz a página no Facebook porque meus amigos e parentes não sabiam falar comigo. Não dá para ligar e perguntar se está tudo bem, porque não está (afinal, você tem câncer). Eu via a dificuldade das pessoas. E também não queria me aproximar de ninguém.
Lá eu dizia que estava me alimentando bem, mostrava os meus lenços ou uma maquiagem nova que eu tinha aprendido. E publicava fotos dos meus amigos que tinham raspado a cabeça comigo.
Foi a partir de uma foto minha, careca, entrando no mar, que a página começou a fazer sucesso. As mulheres com câncer vieram falar comigo, pedindo dicas. E mesmo quem não tinha câncer curtiu as fotos. As pessoas gostam de ver que a gente pode ter uma vida normal.
Hoje, mais 15 mil pessoas seguem a página.
UM EVENTO
Tiro fotos dos "looks" antes de ir para a químio --que eu trato como se fosse um evento. Recentemente, fiz um post ensinando as meninas a combinarem o lenço com vestidos de festa.
Publico fotos com ou sem perucas. Brinco que, graças a elas, viro uma personagem por dia: Katy Perry, Marilyn Monroe ou Uma Thurman, em "Pulp Fiction". Sou várias mulheres em uma!
Para mim, foi natural começar a dar dicas de moda e beleza. Sempre trabalhei com isso. Fui modelo quando mais jovem e, mesmo anos depois, as pessoas ainda me perguntavam qual era a cor do meu esmalte, sobre a minha roupa e o meu cabelo.
Não queria perder isso por causa do câncer.
Tanto que, depois de descobrir a doença e de ir a um psicólogo, fui a uma nutricionista e disse: "Se tu não quiser ver uma paciente morta, não me deixe engordar".
Já fui criticada por isso. Dizem: "Tu tem que cuidar da sua saúde. Vaidade é segundo plano". Mas eu não acho. Para mim, a mulherada tem que sair, ir ao shopping e comprar. A gente se sente viva fazendo essas coisas. E se você se sente bem por fora, isso se reflete por dentro. Meus exames estão ótimos "" até melhores do que antes do câncer. E, com a página, ajudo outras mulheres a se sentirem bem e bonitas.
Só passei a usar maquiagem agora. Nunca fui de passar delineador, era só blush e rímel. Agora, tenho que sair igual a uma diva!
Sabe que eu tomo cantada na rua de lenço? Até arrumei namorado careca. No show do The Cure, em São Paulo, ganhei ingressos VIPs. Teve quem pensasse que eu estava com a banda, por causa do meu estilo, com cílios gigantes e supercareca.
BICHO DA GOIABA
Sem maquiagem, a gente fica com cara de bichinho da goiaba, porque todos os pelos vão embora. Num kit superbásico para "tirar a cara de doente" precisa ter lápis de olho marrom, delineador ou lápis preto, uma sombra marrom e os cílios postiços, é claro. Uso tanto que, às vezes, acho que estou arrancando os meus de verdade que começam a nascer.
Quem não gostar dos cílios pode fazer só o traço fino e esfumado com o lápis preto na pálpebra superior --isso já ajuda a deixar mais escurinho e dar a impressão de que ali tem pelos.
Eu mesma não saio de casa sem base, corretivo, blush, olhos delineados e cílios postiços. Mas é porque gosto de me sentir poderosa.
Hoje, dedico até 15 horas do meu dia à "fanpage". Quero transformá-la em um blog, mas não consigo patrocínio. As marcas parecem não querer ligar seus nomes à quimioterapia. É isso o que eu quero fazer da minha vida, continuar no mundo da moda e da beleza, mas ligando o tema ao câncer e à autoestima.
Esse é o meu principal problema hoje: fazer o blog dar certo. Curar meu câncer, isso é problema do meu médico!

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