Exame dos restos mortais do ex-presidente
João Goulart pode não revelar a causa da morte. Comissão Nacional da
Verdade quer usar peritos internacionais para conferir imparcialidade
Estado de Minas: 05/05/2013
Brasília –
A exumação dos restos mortais do ex-presidente do Brasil João Goulart,
ainda sem data definitiva para ocorrer, pode não surtir efeitos
práticos. A integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV) Rosa
Cardoso declarou, na manhã de ontem, durante audiência pública no Rio de
Janeiro, que o resultado da exumação pode não ser conclusivo. Existe a
suspeita de que Jango, como era conhecido, tenha morrido por
envenenamento.
Ela informou que já há um posicionamento oficial
da Polícia Federal sobre o assunto. “Já temos uma avaliação da Polícia
Federal dizendo que, mesmo que o resultado seja negativo, não é
inteiramente conclusivo. Pode não haver ainda tecnologia para alcançar o
resultado. O nível de decomposição da massa óssea pode ser grande
demais, impedindo que cheguemos a uma assertiva”, declarou.
A
assessoria de imprensa da CNV comunicou que uma força-tarefa será criada
para acompanhar todos os procedimentos. O grupo será formado por
integrantes da CNV, Polícia Federal, Secretaria de Direitos Humanos,
Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Ordem dos Advogados do
Brasil e do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul.
A
exumação vai contar com a participação de peritos internacionais. “Vamos
querer, para conferir mais autenticidade e imparcialidade a esse
trabalho de perícia, que participem técnicos da Argentina, do Uruguai,
do Chile e de outros países que tenham tecnologia para esse trabalho
mais avançado. Queremos pegar peritos dos países que estiveram
envolvidos na Operação Condor, mas também de países que tenham
tecnologia de ponta, para que a gente chegue a resultados mais próximos
da realidade”, salientou.
A exumação foi pedida pela família de
João Goulart durante audiência da Comissão Nacional da Verdade em Porto
Alegre. Jango morreu em dezembro de 1976, durante o exílio na Argentina.
O corpo foi enterrado em São Borja, no Rio Grande do Sul. “Para a
família, é um terrível martírio. Convivemos esses anos todos sem saber
exatamente o que aconteceu”, disse João Vicente Goulart, filho do
ex-presidente.
A família afirma que o caso é cercado de
mistérios. “Não houve autópsia nem no Brasil nem na Argentina. Havia uma
certidão de óbito completamente estapafúrdia. O caixão estava fechado,
selado, sem poder abrir”, argumenta o filho. De acordo com João Vicente,
já em 1976 surgiram dúvidas sobre as causas da morte do ex-presidente.
Perseguição
Durante todo o dia de ontem, integrantes da CNV ouviram depoimentos de
militares que foram perseguidos pela ditadura. A comissão estima que 7,5
mil militares foram perseguidos e outros 30 mortos. “Nas Forças
Armadas, não existiram só torturadores e golpistas”, atestou o
presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih
Damous. “Houve aqueles que resistiram, que defenderam a ordem
democrática e pagaram muito caro por isso, alguns com a vida, outros com
seus empregos e carreiras”, completou.
O depoimento do brigadeiro
Moreira Lima à comissão, em outubro de 2012, deu origem à criação do
grupo de trabalho para apurar as perseguições aos militares. A casa do
brigadeiro chegou a ser incendiada e seu filho, na época com 18 anos,
foi sequestrado pelos militares. Ontem, durante a audiência, foi exibido
um vídeo sobre o brigadeiro. Ele não compareceu ao evento por motivos
de saúde.
Queremos pegar peritos dos países que estiveram
envolvidos na Operação Condor, mas também de países que tenham
tecnologiade ponta, para que a gente chegue aresultados mais próximos da
realidade - Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade
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