domingo, 5 de maio de 2013

O preço do livro - Karine Pansa - Fora #malditosfios - Leão Serva -Tendências/Debates

folha de são paulo

KARINE PANSA
O preço do livro
As pesquisas de mercado mostram que são visíveis os avanços no sentido de reduzir o preço do livro e promover a sua democratização
Entre 2011 e 2010, o preço médio do livro no Brasil recuou 6,11% nas vendas das editoras ao mercado. No acumulado entre 2004, quando as editoras tiveram isenção do PIS/Cofins, e 2011, a queda foi de 21,8%. Descontada a inflação, significa decréscimo real de 44,9%.
Os números constam da pesquisa anual Produção e Vendas do Mercado Editorial Brasileiro, realizada pela conceituada Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Eles mostram que o mercado editorial, por meio da redução dos preços, dentre outras numerosas ações que vêm sendo empreendidas, está avançando na meta prioritária de ampliar o hábito de leitura.
Pesquisa Datafolha realizada em agosto de 2012 na Bienal Internacional do Livro de São Paulo corrobora a tendência de crescimento na procura por livros, inclusive por consumidores de classes de renda menor: aumentou o número de adultos (43% em 2012, contra 38% em 2010) que visitaram o evento pela primeira vez. Cresceu, ainda, a proporção dos frequentadores da classe C, indo de 14% para 19%.
Ainda segundo o Datafolha, os visitantes, que foram 750 mil na Bienal do Livro de 2012, compraram mais: 82% dos frequentadores, ante 80% em 2010, adquiriram livros no evento. A média cresceu de cinco para seis títulos por pessoa.
O efeito do menor preço e de ações de estímulo à leitura --como a própria Bienal de São Paulo, a realização de feiras de livros em todo o país e a compra e distribuição de obras didáticas, paradidáticas e literárias a alunos das redes públicas -- também se evidencia nos números do mercado.
A última edição da pesquisa Fipe mostra que as editoras brasileiras comercializaram aproximadamente 469,5 milhões de livros em 2011, estabelecendo um novo recorde de vendas para o setor.
O número é 7,2% superior ao registrado em 2010, quando cerca de 438 milhões de exemplares foram vendidos. Do ponto de vista do faturamento, o resultado também foi positivo: atingiu a casa dos R$ 4,837 bilhões --um crescimento de 7,36% sobre o ano anterior, o que, se descontada a inflação de 6,5% pelo IPCA do período, corresponde a um aumento real de 0,81%.
Esse baixo aumento real do faturamento mostra que as editoras estão trabalhando com pequenas margens, visando prioritariamente manter os preços cada vez mais acessíveis para os brasileiros.
Não se pode esquecer, ainda, que seus custos --muito além do PIS/Cofins e da isenção tributária para os livros-- também sofrem os efeitos de todos os demais ônus que recaem sobre a produção no Brasil: os encargos sociais/trabalhistas, os juros para investimentos, o preço alto da distribuição num país de imenso território com infraestrutura de transportes e logística deficientes e outras despesas ao longo da cadeia produtiva.
São visíveis os avanços no sentido de reduzir o preço do livro e promover a sua democratização, o que não condiz com o que foi afirmado no artigo "Direito sem ordem de chegada", publicado por esta Folha no último dia 27.
Há, porém, muito a fazer em várias frentes, incluindo o sistema de ensino, as famílias, as entidades de classe do setor editorial e o poder público, em especial por meio de uma efetiva reforma tributária e de medidas positivas como o Vale- Cultura. Se todos fizerem sua parte, o livro passará a ser um direito inerente à cidadania brasileira.


    LEÃO SERVA
    Fora #malditosfios
    Os invasivos fios aéreos não se justificam nem pelo lado técnico: são frágeis diante das intempéries e provocam frequentes cortes de luz
    Banida a publicidade externa de São Paulo, em 2006, a maior responsável pela degradação do visual da cidade passou a ser a rede de fios pendurados em postes.
    Já seriam feios e invasivos se estivessem em boa condição; mas ainda por cima estão malcuidados, em muitos lugares formam verdadeiras camas de gato ou novelos enredados. Além de serem uma insistente manifestação de subdesenvolvimento, os fios aéreos agridem as árvores, essenciais para o ambiente urbano.
    Se fossem solução para o abastecimento de luz da metrópole, ainda se justificariam pelo lado técnico. Mas os #malditosfios, como os chamo em campanha (cada vez menos) solitária nas redes sociais, são frágeis e provocam interrupções de abastecimento cada vez mais frequentes diante das intempéries que o aquecimento global multiplica.
    Os fios subterrâneos, por sua vez, não ameaçam árvores, não invadem o horizonte, não poluem a paisagem e se desgastam menos com o tempo.
    Esse dado tem comprovação empírica: segundo estudo do Edison Electric Institute, formado por companhias elétricas dos EUA, cidades com fiação subterrânea sofrem perda de energia 0,1 vez ao ano, enquanto as de fios expostos perdem 13 vezes isso--1,3 vez ao ano.
    Engana-se quem pensa que só as residências sofrem sem a energia; em São Paulo, todo dia, há 64 panes nos semáforos. Por isso, é muito alvissareira a notícia de que o Ministério Público Federal decidiu pôr em discussão o enterramento do cabeamento elétrico de São Paulo.
    A procuradora Adriana Fernandes da Silva coloca a questão em perspectiva nacional, provocando uma posição da Agência Nacional de Energia Elétrica, até hoje leniente a esse propósito.
    A Eletropaulo, responsável pelos postes de São Paulo, boicota o enterramento, argumentando que os custos são elevados. A distribuidora diz que seria necessário gastar R$ 2,45 milhões para enterrar cada quilômetro de fio, o que causaria um custo total de mais de R$ 100 bilhões, computando-se os 41 mil quilômetros de fios pela cidade.
    Esse valor está inflado, desde logo, pois o certo é multiplicar pelos quilômetros de ruas, dado que cada via terá o mesmo encanamento de luz, não importando quantos fios passem por ali. Como são 17 mil quilômetros de ruas, a conta cai para R$ 41,65 bilhões.
    Mas o enterramento não interessa à companhia; exigiria investimento que ela não parece disposta a fazer já. Atitude infeliz e preguiçosa: outros países já mostraram ser possível fazê-lo em pouco tempo: a Alemanha enterrou 70% de sua fiação aérea em três anos, e o Reino Unido, 80%, em igual período de tempo.
    Outro ponto relevante: com os fios enterrados, a Eletropaulo perde o aluguel que cobra para deixar as telefônicas e TVs pagas pendurarem seus cabos nos postes de luz.
    Essa mesma receita é uma das possíveis fontes de financiamento da mudança dos fios: quem investir no enterramento depois vai receber dessas empresas o que elas pagam hoje para pendurar fios nos postes.
    Também devem ser incluídas entre as possíveis fontes de recursos futuros as economias que as concessionárias terão com a redução da manutenção. Cabe incluir nos cálculos até mesmo alguma contribuição oriunda das economias feitas na cidade com a redução das quedas de fornecimento.
    Com essas e outras fontes, como a venda dos espaços deixados pelos postes, um investidor com dinheiro em caixa que aceite esperar um prazo longo para recuperar seu capital --caso, por exemplo, dos fundos de pensão e dos bancos de investimento-- poderá se interessar pelo enterramento, tirando-nos dessa sinuca em que o desinteresse da Eletropaulo insiste em nos deixar.

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