domingo, 5 de maio de 2013

HQ narra trajetória do escritor Gabriel García Márquez, desde a infância sofrida até o Prêmio Nobel de Literatura

folha de são paulo

Gabo, o 'super-herói colombiano', chega aos quadrinhos
Obra biográfica, lançada em espanhol, enfatiza superações pessoais do autor de "Cem Anos de Solidão"
CASSIANO ELEK MACHADODE SÃO PAULOAo longe, um carro desliza pela estrada de Acapulco, a caminho do mar. Um zoom nos aproxima uma, duas, três, quatro vezes, até chegarmos ao interior do veículo.
Estamos no México, em 1965, e Gabriel García Márquez maneja o volante e conversa com sua mulher, enquanto os filhos fazem algazarra no banco de trás.
É assim que arranca o livro "Gabo - Memorias de una Vida Mágica" (Rey Naranjo Editores, Bogotá, 180 págs.), biografia em quadrinhos do escritor colombiano recém-publicada na Espanha.
É assim, segundo o mesmo livro, que começa a ser criada a obra mais famosa de García Márquez, o romance "Cem Anos de Solidão" (1967).
Nas páginas seguintes de "Gabo" acompanharemos, quadrinho a quadrinho, o momento em que o escritor é tomado por uma epifania e, no acostamento da rodovia mexicana, encontra a maneira de realizar o romance, que rascunhava desde os 19 anos.
Tomando este mítico ponto de partida, "Gabo" narra desde o nascimento do bebê Gabriel (o cordão umbilical sufocando seu pescoço) até o 8 de dezembro de 1982, quando ele recebeu na Suécia o Prêmio Nobel de Literatura.
"A vida de García Márquez é uma fábula completa. Uma epopeia segundo a qual um garoto de um povoado pobre e periférico se converte num mito literário", defende o editor do livro, John Naranjo, em entrevista à Folha.
É com ênfase nesse diapasão "superação de dificuldades", com atenção especial à infância difícil do autor (não por acaso tema central do livro autobiográfico "Viver para Contar", de 2002), que se desenrola a narrativa.
LIVRO A DEZ MÃOS
O projeto concebido pelo colombiano Naranjo, que fundou há três anos a Rey Naranjo, foi tocado a dez mãos.
Óscar Pantoja assina o roteiro e as ilustrações são de Miguel Bustos, Felipe Camargo, Tatiana Córdoba e Julián Naranjo, jovens quadrinistas baseados em Bogotá. Cada ilustrador abraçou uma fatia da vida de Gabo, como o escritor é apelidado.
Ainda que com vaivéns na história, os blocos correspondem a: 1) infância pobre em Aracataca, cidadezinha onde nasceu; 2) juventude como jornalista em Cartagena e em Bogotá, publicação dos primeiros livros, encontro com a mulher de sua vida; 3) viagens --Cuba, Nova York e México--, casamento, filhos e sucesso literário; 4) glória literária: o Prêmio Nobel.
Naranjo não economiza entusiasmo sobre García Márquez. "É uma obra universal, profundamente poética e atemporal. Tenho certeza de que ele será lido daqui a 400 anos, como o Dom Quixote'", sustenta o editor, que chega, como é apropriado ao mundo dos quadrinhos, a compará-lo a Batman, Superman e Homem-Aranha. "É o super-herói colombiano."
A obra, já vendida a alguns países, como a Itália (terra pródiga em biografias em quadrinhos, como as do selo BeccoGiallo), não tem previsão de lançamento no Brasil.
Mas a editora de Gabo no país, a Record, começará a reeditar no mês que vem, com novo projeto gráfico, as obras do autor, a começar por clássicos dele como "O Amor nos Tempos do Cólera" e "Ninguém Escreve ao Coronel".
Gabo, ele mesmo, não deverá mais escrever. Assim anunciou seu irmão Jaime em março passado, quando o "super-herói colombiano" completou seus 85 anos.

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