Estado de Minas - 24/02/2013
Comecemos com o cão. Depois vejamos o que Marina Silva tem a ver com isso.
Vi na TV a notícia sobre um cão extraviado. Ele havia embarcado com sua dona e deveria, portanto, chegar ao destino com ela.
Mas o cão extraviou-se. Não se sabe por que, em Brasília, o cão escapuliu ou foi esquecido solto. O fato é que o avião se foi. O cão, aturdido, saiu caminhando, solitário, sem compreender o que lhe havia ocorrido. E caminhou 30 quilômetros. Não é pouco para cão ou homem. Farejou uma casa e, caninamente exausto, pediu abrigo. Foi recolhido amorosamente. Deram-lhe comida, água e carinho. A filha da dona da casa resolveu botar num site o retrato do cão abandonado que surgira em sua casa. E não é que a proprietária do cão extraviado entrou na internet, viu seu cão, contatou a distante família e foi buscá-lo felicíssima?!
Coisas da internet. Milagre das redes sociais.
E aqui entra Marina Silva, a ex-senadora que veio da floresta e já teve uma vida de cão.
No mesmo dia em que vi a história do cão extraviado, Marina Silva deu entrevista no Roda viva. Estava eu extraviado entre meus livros e parei para ouvir o que dizia. Nunca votei nela, embora a admire. Elegante e segura, discorria sobre vários assuntos sugeridos pelos jornalistas entrevistadores. Parecia D’Artagnan esgrimando e vencendo os guardas do cardeal. Com elegância, respondia diretamente as questões, fazia citações de autores clássicos e oferecia dados e provas.
E o cão extraviado, onde entra nisso?
Está latindo dentro de mim. Marina está defendendo uma tese que tem tudo a ver com o cão extraviado. Segundo ela, a política e os políticos estão extraviados, perderam o rumo. E a internet por corrigir isso. Os políticos perderam a conexão entre um aeroporto e outro. Estariam vagando por aí como aquele cão à procura de um novo dono.
Claro que ela não falou assim. Assim falo eu aqui, fazendo conexões e transbordos metafóricos. E a pertinência desse raciocínio se torna mais evidente quando consideramos a internet e a política. Na história canina, as redes sociais serviram para localizar o cão. Pergunta-se: quando é que num mundo sem internet a moça que encontrou o bicho reencontraria a verdadeira dona daquela criatura? Nunca! Ia-se acreditar que o cachorro foi abduzido por marcianos ou sequestrado por um malfeitor.
E aí entra o pensamento político do novo partido, chamado Rede, criado por Marina. Para ela, os partidos que aí estão pertencem a uma outra realidade, superada pela tecnologia e pelas exigências do país. Elogia o PMDB, quando surgiu num determinado momento histórico; reconhece que o PT correspondia a uma coisa nova: novos sindicatos, ONGs, comunidades eclesiais de base, os sem-terra; aceita que o Partido Verde também correspondia, na Europa e aqui, à nova mentalidade sobre o ecossistema. Mas está convencida e oferecendo uma proposta realmente desafiadora: o poder será exercido em rede com os partidos, mas acima dos partidos. Está propondo o poder em rede. Segundo ela, a pressão seria exercida das periferias, dos indivíduos empoderados pela internet. (A seu favor, aliás, no dia seguinte os jornais noticiaram que a TV, cada vez mais, ouve a opinião do público para direcionar seus programas, tanto aqui quanto nos EUA).
Estaríamos, portanto, diante de uma revolução que tem que chegar à política. Os partidos têm donos e caciques. Ou, em outros termos, ela propõe que se ache o cão extraviado por meio da internet. As pessoas querem ter voz e não reconhecem como interlocutores os que estão em Brasília. (Vejam o episódio Renan). Eles fazem um discurso de conveniência.
O pensamento de Marina Silva é mais complexo e não posso sintetizá-lo. Poderia até localizar na sua fala o discurso evangelizante e messiânico. (Essa ética protestante é até oportuna na hora em que o papa e a Igreja estão em crise agônica).
Ela pode estar equivocada. Mas seu discurso é coisa nova na prática política brasileira. Torna o PT e o PSDB coisas do passado.
>> >> www.affonsors@uol.com.br
Vi na TV a notícia sobre um cão extraviado. Ele havia embarcado com sua dona e deveria, portanto, chegar ao destino com ela.
Mas o cão extraviou-se. Não se sabe por que, em Brasília, o cão escapuliu ou foi esquecido solto. O fato é que o avião se foi. O cão, aturdido, saiu caminhando, solitário, sem compreender o que lhe havia ocorrido. E caminhou 30 quilômetros. Não é pouco para cão ou homem. Farejou uma casa e, caninamente exausto, pediu abrigo. Foi recolhido amorosamente. Deram-lhe comida, água e carinho. A filha da dona da casa resolveu botar num site o retrato do cão abandonado que surgira em sua casa. E não é que a proprietária do cão extraviado entrou na internet, viu seu cão, contatou a distante família e foi buscá-lo felicíssima?!
Coisas da internet. Milagre das redes sociais.
E aqui entra Marina Silva, a ex-senadora que veio da floresta e já teve uma vida de cão.
No mesmo dia em que vi a história do cão extraviado, Marina Silva deu entrevista no Roda viva. Estava eu extraviado entre meus livros e parei para ouvir o que dizia. Nunca votei nela, embora a admire. Elegante e segura, discorria sobre vários assuntos sugeridos pelos jornalistas entrevistadores. Parecia D’Artagnan esgrimando e vencendo os guardas do cardeal. Com elegância, respondia diretamente as questões, fazia citações de autores clássicos e oferecia dados e provas.
E o cão extraviado, onde entra nisso?
Está latindo dentro de mim. Marina está defendendo uma tese que tem tudo a ver com o cão extraviado. Segundo ela, a política e os políticos estão extraviados, perderam o rumo. E a internet por corrigir isso. Os políticos perderam a conexão entre um aeroporto e outro. Estariam vagando por aí como aquele cão à procura de um novo dono.
Claro que ela não falou assim. Assim falo eu aqui, fazendo conexões e transbordos metafóricos. E a pertinência desse raciocínio se torna mais evidente quando consideramos a internet e a política. Na história canina, as redes sociais serviram para localizar o cão. Pergunta-se: quando é que num mundo sem internet a moça que encontrou o bicho reencontraria a verdadeira dona daquela criatura? Nunca! Ia-se acreditar que o cachorro foi abduzido por marcianos ou sequestrado por um malfeitor.
E aí entra o pensamento político do novo partido, chamado Rede, criado por Marina. Para ela, os partidos que aí estão pertencem a uma outra realidade, superada pela tecnologia e pelas exigências do país. Elogia o PMDB, quando surgiu num determinado momento histórico; reconhece que o PT correspondia a uma coisa nova: novos sindicatos, ONGs, comunidades eclesiais de base, os sem-terra; aceita que o Partido Verde também correspondia, na Europa e aqui, à nova mentalidade sobre o ecossistema. Mas está convencida e oferecendo uma proposta realmente desafiadora: o poder será exercido em rede com os partidos, mas acima dos partidos. Está propondo o poder em rede. Segundo ela, a pressão seria exercida das periferias, dos indivíduos empoderados pela internet. (A seu favor, aliás, no dia seguinte os jornais noticiaram que a TV, cada vez mais, ouve a opinião do público para direcionar seus programas, tanto aqui quanto nos EUA).
Estaríamos, portanto, diante de uma revolução que tem que chegar à política. Os partidos têm donos e caciques. Ou, em outros termos, ela propõe que se ache o cão extraviado por meio da internet. As pessoas querem ter voz e não reconhecem como interlocutores os que estão em Brasília. (Vejam o episódio Renan). Eles fazem um discurso de conveniência.
O pensamento de Marina Silva é mais complexo e não posso sintetizá-lo. Poderia até localizar na sua fala o discurso evangelizante e messiânico. (Essa ética protestante é até oportuna na hora em que o papa e a Igreja estão em crise agônica).
Ela pode estar equivocada. Mas seu discurso é coisa nova na prática política brasileira. Torna o PT e o PSDB coisas do passado.
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