domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mônica Bergamo

folha de são paulo

Após câncer, Antonia Frering recusa título de socialite e estreia no horário nobre



Foi de cabelos curtos e encaracolados que Antonia Frering debutou no horário nobre da Rede Globo. Bem diferente da figura conhecida pela longa cabeleira negra, marca registrada da família. Para viver a advogada Deborah, na novela "Salve Jorge", a filha de Carmen Mayrink Veiga, 83, ícone da sociedade carioca, passou também por um teste de vaidade e disciplina.

Antonia Frering estreia no horário nobre após câncer

 Ver em tamanho maior »
Marlene Bergamo/Folhapress
AnteriorPróxima
A atriz Antonia Frering colocou mega-hair para interpretar Deborah na novela "Salve Jorge", da Globo
*
A atriz encarou uma maratona para adotar o visual da personagem, que não combinava com o corte "joãozinho" que substituíra suas longas madeixas. "Foi um pesadelo ficar dez dias sentada na cadeira do cabeleireiro para fazer o mega-hair", relata à repórter Eliane Trindade.
*
Dificuldade que tirou de letra depois de ter ficado careca após a quimioterapia. Antonia, 48, teve um câncer de mama diagnosticado em 2011. "Na segunda quimio, meu cabelo começou a cair. Maria, minha filha, raspou tudo. Foi um momento duro. Ela sofria tanto que eu a coloquei no colo. Mas a sensação era de que eu estava no colo de Nossa Senhora."
*
A superação da doença foi prova de fé para a católica praticante, que dá aulas de catecismo e vai à missa quase todos os dias. "Quando operei o seio, estava só de avental, sem cabelo, cílio e sobrancelha. Naquele momento, você só tem o amor da sua família e a fé", diz. "Se o câncer foi um teste, espero em Deus ter passado."
*
Ser escalada para a novela lhe deu força. "Ganhei de presente uma personagem diferente de mim, independente, trabalhadora. Não que eu não trabalhe, mas sou dependente de família e filho."
*
É casada há 27 anos com Guilherme Frering, 53, herdeiro do grupo Caemi, vendido à Vale por US$ 332 milhões em 2001. "Ele não era noveleiro, mas hoje não perde um capítulo." Decidiram morar na Inglaterra com os filhos Lorenzo, 25, Guilherme, 23, e Maria, 20, que na época eram adolescentes.
*
Foi em Londres que Antonia fez curso de interpretação. "Fui levar Lorenzo e não parei mais." O filho desistiu. "As aulas eram bem chatas, mas fui gostando. Subi ao palco e senti uma explosão."
*
Desde então, foi Maria na "Paixão de Cristo", em Nova Jerusalém (PE), e fez pontas em filmes e novelas. Chamada por Daniel Filho para a comédia "Se Eu Fosse Você", diz que ficou apavorada. "Eu tô péssima. Sou muito crítica, minha pior inimiga."
*
Atuou em "Madre Teresa de Calcutá" (2003), produção internacional na qual faz a mãe da religiosa. "Quando ela tinha nove anos", explica. De quem é o filme? "Não faz pergunta difícil. Faz dez anos." É de Fabrizio Costa.
*
No Rio, produziu e estrelou a peça "O Pintor", cujos direitos adquiriu em Londres. O autor? "Não faz pergunta difícil", diverte-se. "A cabeça está a mil." O texto é de Donald Churchill, adaptado por João Emanuel Carneiro.
*
Recorda-se do mico nas filmagens de "O Diário de Bridget Jones 2" (2004). "Não foi trabalho, mas diversão", diz sobre a cena em que se senta ao lado dos protagonistas Renée Zellweger e Hugh Grant em um avião. No intervalo, perdeu-se nos estúdios. "Ficaram desesperados atrás de mim. Quando entrei, todos me esperavam. Quase morri."
*
  • O sonho de* ser atriz tem aval de Gloria Perez. "Antonia criou os filhos, saiu pra batalha e sofre preconceito ao contrário: ela é bonita demais, rica demais", diz a novelista. "Torço por ela. Não deve ter sido fácil enfrentar ainda o preconceito do próprio meio social."
*
Teve de vencer a resistência materna. "No começo, foi complicado minha mãe aceitar que eu queria ser atriz", admite. "Hoje, ela vibra." Antonia conta que Carmen, ao assistir à novela, apaixonou-se por uma blusa da sua personagem e queria uma igual. "E não conseguia entender que eu não podia pegar a peça no Projac para dar pra ela."
*
Para a foto, Antonia escolheu calça e camisa de seda da Daslu. No dia a dia, é adepta de jeans e camiseta. Tem 1,77 m e pesa 57 kg. "Emagreci e não voltei ao peso de antes." É a primeira a atacar a bandeja de pão de queijo na casa da amiga, onde deu a entrevista. Chega dirigindo uma perua BMW.
*
"Antonia não leva vida de dondoca. É culta, inteligente, tem sensibilidade artística, sem se deixar vulgarizar neste meio", diz o advogado Sergio Bermudes, amigo dos Frering. Ele é do conselho do Instituto Desiderata, mantido pela família, que presta assistência a crianças com câncer. "Nossa geração tem preocupação social", diz Antonia, vice-presidente da ONG, que levantou fundos para três salas de quimioterapia.
*
A filha de Carmen decreta o fim do "grand monde": "Esse mundo de glamour e grandes festas não existe mais. Acho um porre ir para o cabeleireiro, depois para chás, almoços e jantares".
*
Estranha quando lhe perguntam se está se divertindo em "Salve Jorge". "Você dedica um ano da sua vida para uma novela. Então, isso não pode ser só distração." Encara o desafio com um lema repetido por seu professor de expressão corporal, o francês Jean-Marie. "A graça tá na busca", afirma. "Em tudo na vida, o importante é agarrar as oportunidades e saber aprender. Contanto que não seja matemática."
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário