A corrida do ouro
Em ano de disputa acirrada, três filmes lideram apostas, mas "Argo" chega ao Oscar 2013 na dianteira
Se o longa confirmar a condição, será a maior virada em Hollywood desde que "Crash", de Paul Haggis, passou a perna em "O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee, em 2006.
Quando foi apresentado para a imprensa no Festival de Toronto, em setembro do ano passado, "Argo" foi recebido com boas críticas e um burburinho de Oscar.
Mas ninguém ousava afirmar que ali estaria o grande candidato à estatueta da 85ª edição do prêmio.
Pela frente ele ainda teria "Lincoln", biografia do presidente icônico dos Estados Unidos, dirigida por Steven Spielberg e protagonizada por Daniel Day-Lewis.
Em seguida, estrearia "A Hora Mais Escura", uma produção que mistura jornalismo e cinema sobre os dez anos de investigação que levaram à morte do terrorista Osama bin Laden.
Como competir com temas tão importantes para os EUA, feitos por Spielberg e pela dupla vencedora do Oscar 2009 com "Guerra ao Terror", a diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal?
Em dezembro, "Lincoln" e "A Hora Mais Escura" escalavam o topo de quase todas as listas de associações americanas de críticos. Na época, "Argo" já havia saído de cartaz, com dignos US$ 127 milhões (R$ 250 milhões) em caixa.
O último prego no caixão do thriller sobre o resgate inusitado de americanos no Irã em 1979/80 deveria ter sido o anúncio dos indicados ao Oscar, em 10 de janeiro.
A ausência de Ben Affleck entre os diretores, mesmo com o seu longa entre os candidatos a melhor filme, fez supor que a Academia apostaria na disputa entre Spielberg e Bigelow.
Afinal, apenas três produções na história ganharam a estatueta sem ter seus diretores na briga: "Asas" (1927), "Grande Hotel" (1932) e "Conduzindo Miss Daisy" (1989).
A reação foi a oposta. Depois da esnobada, Affleck ganhou todos os prêmios dos sindicatos -de atores, diretores, produtores e roteiristas, a maioria formada por membros da Academia.
Há cinco anos o melhor filme do Oscar também leva os prêmios dos sindicatos.
"A suposta esnobada colocou fogo na gasolina e mudou o que deveria ser uma daquelas premiações em que um filme ganha tudo", escreveu Sasha Stone, especialista do site "Awards Daily". "Foi uma bênção disfarçada."
MUDANÇAS
De certa maneira, essa "bênção" veio a calhar para a premiação. Desde 1998, quando "Titanic" foi a grande estrela da cerimônia, que o Oscar não ultrapassa a marca de 50 milhões de espectadores.
Em 2011, a combinação capenga dos apresentadores James Franco e Anne Hathaway com filmes sem tanto brilho ("O Discurso do Rei") gerou a pior audiência desde 2003.
Ano passado, houve uma melhora de 4% em relação a 2011. E foi o segundo evento mais comentado das redes sociais. Mesmo assim, a edição de 2013 vem com algumas mudanças.
A primeira é a estreia de Seth McFarlane como apresentador. Ele é o criador do desenho "Uma Família da Pesada" e de "Ted", a comédia de maior sucesso de 2012.
A presença do controverso comediante serve para atrair os jovens e manter a força da cerimônia na web.
Além disso, a premiação assume a marca "The Oscars" -e não mais o pomposo "85º Prêmio da Academia".
"É a decisão correta para essa edição", disse Teni Melidonian, porta-voz do prêmio. "Mas podemos voltar ao nome antigo no ano que vem".
Lobby dos estúdios em 2013 teve de iPod a livro de culinária
Executivos impõem rotina excruciante a atores e diretores em busca dos votantes
Entre os mimos que os eleitores receberam estão um iPod com músicas de "Os Miseráveis", quatro livros de luxo de "Lincoln", incluindo um de receitas da época da Guerra Civil, um arco e flecha da animação "Valente" e uma cadeira de Sacha Gervasi, diretor de "Hitchcock", indicado ao prêmio de maquiagem.
"A cada ano, as campanhas pelo Oscar ficam maiores. E neste ano estão particularmente caóticas", disse o especialista em prêmios do semanário "Hollywood Reporter", Scott Feinberg.
"Não havia um favorito claro até há pouco tempo e ainda há categorias em aberto. Então todo mundo achou que tinha chance e resolveu apostar, tirar vantagem de qualquer oportunidade. Ficou agressivo."
Enquanto ainda há dúvidas sobre quem deve vencer roteiro adaptado, atriz, ator coadjuvante e animação, "Argo" lidera as apostas para faturar melhor filme -ainda que tenha só sete indicações, contra 12 de "Lincoln"- já que arrematou os principais prêmios da temporada.
No geral, para a crítica, além da qualidade do trabalho e da temática simpática a Hollywood, o fato de Ben Affleck ter sido esnobado na categoria de direção criou uma "compaixão" entre os seus pares, aumentando as suas chances. Algo que campanha nenhuma seria capaz de fazer.
FORTUNA
Afinal, dinheiro não compra tudo, nem Oscar. E, se os estúdios exageram na gastança, o tiro pode sair pela culatra e rebelar os votantes.
"Harvey Weinstein gastou uma fortuna recentemente com 'O Lado Bom da Vida', mas nada se compara com o que a Disney está colocando em 'Lincoln' ou a Warner em 'Argo'", comentou Pete Hammond, colunista de prêmios do influente blog "Deadline Hollywood".
Segundo o jornal "Los Angeles Times", as duas empresas estão desembolsando cada uma o equivalente a R$ 20 milhões em suas estratégias, levando executivos da indústria a acreditar que este é o ano mais caro da história das campanhas de Oscar, além de o mais disputado.
Hammond notou que nunca foram organizadas tantas festas e almoços com possíveis concorrentes antes do anúncio dos indicados, em 10 de janeiro. Depois do anúncio, a Academia limita o número de convescotes.
Mas não há restrições à publicidade, e jornais locais transbordam de anúncios "para sua consideração". Uma página inteira no semanário "Variety" chega a custar R$ 160 mil, enquanto um outdoor num ponto nobre da cidade ultrapassa os R$ 400 mil. Os custos também incluem transporte e hotel para os artistas entre Nova York e Los Angeles, e eventos em hotéis cinco estrelas.
Não seria muita surpresa ver "O Lado Bom da Vida", que concorre a oito estatuetas, dominando a noite de hoje, já que a comédia dramática tem por trás o poderoso e experiente Weinstein, arquiteto da campanha dos últimos dois vencedores do Oscar, "O Artista" (2011) e "O Discurso do Rei" (2010).
O americano responsável pelas quatro indicações ao Oscar de "Cidade de Deus" em 2004 costuma colocar seus artistas numa maratona intensiva de entrevistas na mídia, aparições em exibições dos filmes para o público e festas da indústria.
"Os atores e diretores ficam mentalmente e fisicamente esgotados. Mas, se ganharem no final, vão achar que valeu a pena e vão agradecê-lo", diz Feinberg. "Não é à toa que ele tem fama de aparecer mais que Deus nos discursos de agradecimento."
Indicados a melhor filme têm boa arrecadação em bilheteria
DE LOS ANGELESDos nove concorrentes ao Oscar de melhor filme, oito continuam em cartaz nos Estados Unidos, incluindo "Argo", que estreou em outubro do ano passado. Apenas "Indomável Sonhadora" já saiu das salas de cinemas.Dos nove, seis ultrapassaram os US$ 100 milhões (R$ 195 mi) arrecadados, uma ótima performance se comparada à dos indicados de 2011, quando apenas um conseguiu ir além da marca, "Histórias Cruzadas".
A obra que mais se deu bem com venda de ingressos foi "Lincoln", atualmente com US$ 176 milhões (R$ 350 mi), seguido de "Django Livre" e "Os Miseráveis", com US$157 milhões (R$ 310 mi) e US$ 145 milhões (R$ 275 mi), respectivamente.
"Estes oito filmes continuam indo muito bem nos cinemas, estão no top 20, e isso é uma grande ferramenta de marketing", afirmou Paul Dergarabedian, presidente do Hollywood.com, site especializado em análise de bilheterias. "O eleitor do Oscar olha para isto, mostra que estes trabalhos continuam relevantes."
O analista comentou que os novos lançamentos de 2013 estão indo muito mal no mercado, como os longas de Arnold Schwarzenegger ("O Último Desafio") e Sylvester Stallone ("Alvo Duplo").
"Ainda bem que há os filmes do Oscar, caso contrário a bilheteria do ano estaria ainda mais deprimente."
Nenhum comentário:
Postar um comentário