OMBUDSMAN
SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman
Exclusivo para assinantes
Para melhorar a qualidade dos comentários no site, Folha restringe o livre opinar aos pagantes
Desde 29 de janeiro, só os assinantes estão livres para comentar qualquer texto. Os demais internautas podem opinar apenas nas notícias previamente selecionadas pela Redação -e obedecendo a um limite de 20 por dia.
Além disso, observações colocadas por visitantes passam por uma aprovação, o que implica demora na liberação do post.
Na sexta-feira passada, o professor universitário Marcos Brogna, 38, queria fazer uma crítica ao editorial sobre a corrida presidencial, mas foi barrado. "O jornal só quer que os assinantes, aqueles que tendem a ter uma postura menos crítica à própria Folha, debatam suas reportagens, editoriais e colunas", protestou Brogna.
A restrição aos comentários desagradou especialmente os assinantes do UOL, que podem ler todo o conteúdo da Folha, mas perderam o direito de comentar livremente. "É uma quebra unilateral de contrato, porque o acesso à Folha deveria incluir o comentário, que é um mecanismo fundamental de participação", escreveu o analista de mídia Renato Silveira, 49, que postava diariamente no site.
A Secretaria de Redação afirma que os comentários não podem ser considerados como parte do conteúdo da Folha, porque são produzidos pelos leitores. O objetivo da mudança seria melhorar a qualidade do que é publicado.
Antes da restrição, o site tinha cerca de 5.000 comentários por dia, o que tornava impossível controlar o que ia ao ar. Embora o jornal ainda não tenha um número fechado, dá para notar que a quantidade de posts caiu bastante.
O nível do debate melhorou, mas está longe do ideal. Basta navegar um pouco para encontrar:
"Mandem ela para a Venezuela para cuidar do Hugo Chávez." (sobre a médica acusada de provocar mortes na UTI)
Para aplacar as críticas e justificar essa medida antipática, mas necessária, de restringir os comentários, a Redação precisa se esforçar mais na seleção do que vai ao ar. Não é fácil porque o manto da invisibilidade da internet parece liberar o que há de pior em cada um.
UM CHUTE PELAS COSTAS
A pequena nota publicada na quinta-feira passada não dava conta de explicar a agressão sofrida pela repórter Daniela Lima, 27, destacada pelo jornal para cobrir a festa em que o PT comemorava os 10 anos de tomada do poder.Percebendo um tumulto na porta do evento, Daniela foi ver o que estava acontecendo. Eram cerca de 100 militantes que queriam entrar, mas não tinham convite.
A repórter se aproximou e perguntou o porquê do protesto. Um militante olhou o crachá dela e respondeu "Fora daqui, PIG" (para os não familiarizados com a linguagem petista: PIG é "partido da imprensa golpista").
O clima esquentou. Uma senhora impediu Daniela de passar, um homem lhe deu um chute pelas costas. "Cadela do PIG", gritaram.
As agressões partiram de um grupo e, graças à ajuda de outros militantes, ela saiu dali.
O Diretório Estadual do PT em São Paulo lamentou o ocorrido e afirmou que "o partido reforça seu respeito aos profissionais de comunicação que, diariamente, acompanham a vida política e contribuem para a democratização das informações".
A inaceitável agressão serviu pelo menos para isso: ouvir o partido do governo dizer que valoriza o trabalho da imprensa.
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