A grande liquidação dos partidos
Na Itália, os "indignados" encontraram seu espaço e, pela primeira vez, ocuparão vagas no Parlamento
Se as pesquisas estiverem certas, pela primeira vez os "indignados" conseguirão vaga no Parlamento. No caso da Itália, eles estão congregados no M5S, o "Movimento 5 Stelle" (Estrelas), criado faz quatro anos pelo cômico Beppe Grllo.
O que é o Movimento? "Goste-se ou não dele, está fornecendo um canal de desafogo à raiva e à frustração", escreve o colunista Beppe Severgnini, do "Corriere della Sera".
Se se quiser procurar um antecedente latino-americano a Beppe Grillo, eu apontaria o grito "que se vayan todos", cantado nas praças da Argentina em 2001 e que levou à renúncia de Fernando de la Rúa.
Aqui na Itália, Beppe Grillo grita aos políticos (todos): "Rendam-se, vocês estão cercados pelo povo italiano".
É um exagero, mas permanece o fato de que Grillo foi o único que se atreveu a fazer comícios em praça pública em todas as grandes e não tão grandes cidades italianas. Os demais candidatos preferiram, com uma ou outra exceção, o esquema que se tornou usual na política contemporânea: a televisão.
Grillo, ao contrário, é tão anti-establishment que se deu ao luxo de recusar entrevistas aos canais Sky, poderosos aqui como a Globo no Brasil. Você conhece alguém no Brasil que recusaria um chamado de Wiliam Bonner, mesmo entre os esquerdistas que antigamente gritavam "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo?"
Cito a Itália porque há uma eleição, mas o desprestígio dos partidos políticos parece ser um fenômeno universal. Só esta semana, rolaram cabeças na Bulgária e na Tunísia, para não mencionar o sitiado presidente do Egito. E são países com histórias completamente diferentes, com estruturas partidárias relativamente recentes, que, em tese, não deveriam estar tão desgastadas quanto os velhos partidos italianos, franceses, espanhóis etc (bota etc nisso).
De certa forma, a América Latina se antecipou a esse fenômeno. Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa liquidaram a estrutura partidária pré-existente, mesmo quando tinha uma história rica como a do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) na Bolívia ou eram de massa como a Ação Democrática e o Copei na Venezuela.
Em todos esses países, inclusive no Brasil, os partidos estão sendo substituídos por líderes carismáticos, por um forte personalismo. O PT, por exemplo, é bem menor que Lula. O PMDB, que não tem um líder com essas características, fica mero coadjuvante, enquanto o PSDB, que também não tem, busca o seu, e ele não está à vista.
Não sei até onde o M5S poderá inspirar movimentos similares em outros países. Sei que, sem a internet, já teria desaparecido. Mas, com internet e sem a rua, seria o que o são os protestos no Brasil: um jogo entre amigos que não consegue abrir espaço na agenda política.
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