Estado de Minas: 17/03/2013
De uns tempos para cá, fala-se muito em zona de conforto. Depois de tanto ouvir essa expressão, você quer saber o que é isso.
Matérias sobre moda falam disto: tal vestido e/ou tênis coloca você na zona de conforto. Não são apenas as poltronas que devem nos acolher melhor, mas nos shopping espalharam sofás para aumentar nossa zona de conforto. Há cinemas que aumentaram a zona de conforto com cadeiras reclináveis, servindo vinho durante o filme. Uma simples bermuda ou short tem que trazer você para a zona de conforto. Automóveis, nem se fala! Dá-lhe conforto na zona do trânsito. Se você vai ao médico, advogado ou psicólogo, eles falam disso. Evidentemente, na hora de namorar, os pares sempre procuraram a sua zona de conforto. Enfim, conforto virou uma mercadoria.
Então, fui atrás da expressão. E descobri que nas grandes empresas não se fala de outra coisa. Tem gente especializada em zona de conforto. Os departamentos de recursos humanos elaboram teorias sobre isso. E sou levado a pensar que os americanos inventaram essa mania. Os psicólogos devem ter feito experiências com ratinhos antes de aplicar isso nas multinacionais. Imagino que os animais procurem sua zona de conforto. Antes chamava-se querência aquele lugar onde você preferencialmente se assenta, se deita e contempla o mundo. E se sente bem. É a sua zona de conforto
No entanto, existe a zona do conforto e a zona do desconforto. E é aqui que a porca torce o rabo. A gente pensa que a zona de conforto é o lugar ideal. Pelo menos, é assim a publicidade, e nós, ingenuamente, julgamos. Queremos o mínimo de desgaste e o máximo de segurança. No entanto, instala-se o paradoxo ou complexidade dentro dessa teoria aparentemente tão simples.
Para muitos, o conforto é um perigo, pois aí os medos e riscos estão domados e a vida vira uma chatura. Tudo é previsível. Você começa a sentir desconforto no conforto. Vejam o papa: estava confortável na Santa Sé, foi pedir aquele inquérito sobre a corrupção e o pecado no Vaticano, não aguentou mais o conforto em que estava e pulou para o desconforto em que lançou toda a Igreja.
Dizem os especialistas que o desconforto obriga a pessoa a crescer. É e não é.Tem gente que pula de um desconforto para o outro e nunca amadurece. É a vocação para viver na borda do abismo. Já outros preferem manter o abismo a distância, pois, afinal, abismo é abismo.
Dizem os especialistas que você só aprende com experiências novas. Há que ousar, dizem eles. Na zona de conforto você controla tudo. Há qualquer coisa de júbilo burocrático nisso. (Estou me lembrando de Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. O personagem Teodoro era a zona de segurança e conforto, Vadinho era sexualidade surpreendente. E estou me lembrando dos personagens de Clarice Lispector caindo no desconforto da epifania).
Por essa via, é possível entender a história do paraíso, a expulsão de Adão e Eva do Éden: saíram do conforto para o desconforto. Não foi à toa que Jeová foi logo dizendo para eles irem arar a terra com o suor do próprio rosto. Chega de sombra e água fresca.
Embora haja uns oásis por aí, a vida nunca foi sombra e água fresca. Que o diga Sísifo, que o diga Hércules, que o diga Cristo na cruz, que o diga Bento XVI em crise pública e notória.
Mas aí desponta algo para observações mais profundas. Há muito que nossa cultura cultiva o mal-estar da civilização. Cultivar o mal-estar e o horror virou palavra de ordem. Vejam parte da arte contemporânea.
Não estranha, portanto, que, paradoxalmente, se procure a zona de conforto.
Enfim, tudo é possível: conforto no conforto, desconforto no conforto, conforto no desconforto e desconforto no desconforto. Cada qual na sua. Ou, como dizem em Minas: nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Matérias sobre moda falam disto: tal vestido e/ou tênis coloca você na zona de conforto. Não são apenas as poltronas que devem nos acolher melhor, mas nos shopping espalharam sofás para aumentar nossa zona de conforto. Há cinemas que aumentaram a zona de conforto com cadeiras reclináveis, servindo vinho durante o filme. Uma simples bermuda ou short tem que trazer você para a zona de conforto. Automóveis, nem se fala! Dá-lhe conforto na zona do trânsito. Se você vai ao médico, advogado ou psicólogo, eles falam disso. Evidentemente, na hora de namorar, os pares sempre procuraram a sua zona de conforto. Enfim, conforto virou uma mercadoria.
Então, fui atrás da expressão. E descobri que nas grandes empresas não se fala de outra coisa. Tem gente especializada em zona de conforto. Os departamentos de recursos humanos elaboram teorias sobre isso. E sou levado a pensar que os americanos inventaram essa mania. Os psicólogos devem ter feito experiências com ratinhos antes de aplicar isso nas multinacionais. Imagino que os animais procurem sua zona de conforto. Antes chamava-se querência aquele lugar onde você preferencialmente se assenta, se deita e contempla o mundo. E se sente bem. É a sua zona de conforto
No entanto, existe a zona do conforto e a zona do desconforto. E é aqui que a porca torce o rabo. A gente pensa que a zona de conforto é o lugar ideal. Pelo menos, é assim a publicidade, e nós, ingenuamente, julgamos. Queremos o mínimo de desgaste e o máximo de segurança. No entanto, instala-se o paradoxo ou complexidade dentro dessa teoria aparentemente tão simples.
Para muitos, o conforto é um perigo, pois aí os medos e riscos estão domados e a vida vira uma chatura. Tudo é previsível. Você começa a sentir desconforto no conforto. Vejam o papa: estava confortável na Santa Sé, foi pedir aquele inquérito sobre a corrupção e o pecado no Vaticano, não aguentou mais o conforto em que estava e pulou para o desconforto em que lançou toda a Igreja.
Dizem os especialistas que o desconforto obriga a pessoa a crescer. É e não é.Tem gente que pula de um desconforto para o outro e nunca amadurece. É a vocação para viver na borda do abismo. Já outros preferem manter o abismo a distância, pois, afinal, abismo é abismo.
Dizem os especialistas que você só aprende com experiências novas. Há que ousar, dizem eles. Na zona de conforto você controla tudo. Há qualquer coisa de júbilo burocrático nisso. (Estou me lembrando de Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. O personagem Teodoro era a zona de segurança e conforto, Vadinho era sexualidade surpreendente. E estou me lembrando dos personagens de Clarice Lispector caindo no desconforto da epifania).
Por essa via, é possível entender a história do paraíso, a expulsão de Adão e Eva do Éden: saíram do conforto para o desconforto. Não foi à toa que Jeová foi logo dizendo para eles irem arar a terra com o suor do próprio rosto. Chega de sombra e água fresca.
Embora haja uns oásis por aí, a vida nunca foi sombra e água fresca. Que o diga Sísifo, que o diga Hércules, que o diga Cristo na cruz, que o diga Bento XVI em crise pública e notória.
Mas aí desponta algo para observações mais profundas. Há muito que nossa cultura cultiva o mal-estar da civilização. Cultivar o mal-estar e o horror virou palavra de ordem. Vejam parte da arte contemporânea.
Não estranha, portanto, que, paradoxalmente, se procure a zona de conforto.
Enfim, tudo é possível: conforto no conforto, desconforto no conforto, conforto no desconforto e desconforto no desconforto. Cada qual na sua. Ou, como dizem em Minas: nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
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