Aposta de Caetano Veloso, Pretinho da Serrinha emplaca músicas na novela das nove
DE SÃO PAULO
Enquanto posa para fotos que ilustram esta reportagem, Pretinho da Serrinha brinca com seu cavaquinho. Imita no instrumento de quatro cordas os acordes da música eletrônica que toca alto na boate do Jockey Clube carioca.
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O gesto é símbolo do que Ângelo Vitor Simplício da Silva, 34, quer fazer com seu instrumento: "Levar o samba para a pista de dança", diz ele.
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Pretinho da Serrinha
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Pretinho da Serrinha canta com Caetano Veloso no Rider Weekend, no Rio, em janeiro de 2013
Por ora, deu certo. Seis meses depois de lançar o primeiro álbum com seu grupo, Trio Preto+1, Pretinho já emplacou sua composição "Alma de Guerreiro" como música da abertura da novela "Salve Jorge", da TV Globo, cantada por Seu Jorge. Tem outra canção, esta com sua própria voz, na trilha da novela. Foi também comentarista da transmissão do Carnaval da emissora carioca.
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"Tá tudo conspirando a favor. Acho que agora vai", afirma Pretinho ao repórter Chico Felitti. Enquanto fala, movimenta as mãos sem cessar, como se manuseasse um instrumento que não está lá.
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Pretinho toca desde a infância. Começou com percussão, adotou o machete [uma espécie de cavaquinho] aos dez anos e desde então aprendeu a fazer som com instrumentos a perder de conta. Virou músico e arranjador de artistas como Marcelo D2, Teresa Cristina, Alcione, Lulu Santos, Dudu Nobre e Arlindo Cruz -que agora o apoiam na empreitada solo.
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Mas sua carreira começou a tomar a forma atual depois que o sambista caiu nas graças da produtora Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso. Ela passou a empresariá-lo -e colou o sambista no ex-marido: onde Caetano vai, muitas vezes Pretinho vai atrás.
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No próximo domingo, por exemplo, os dois estarão juntos no "Esquenta", de Regina Casé, da TV Globo, grande amiga de Caetano. Carnaval do Recife? Eles também estavam lá. Produtores pernambucanos torceram o nariz para a presença do baiano no encerramento da folia, ainda mais acompanhado por um grupo de samba.
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Mas o governador Eduardo Campos (PSB-PE), grande amigo de Caetano, achava que poderia ser muito legal. E, quando ele acha alguma coisa, em Pernambuco, ela acontece: a prefeitura contratou Caetano. Pretinho foi junto, e o samba rolou solto na capital do frevo.
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Gloria Perez, autora da novela das oito que adotou seu hit, também é grande amiga de Paula e de Caetano.
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E é Paula, segundo Pretinho, que encaixa seu show em eventos de marcas como Vivo Open Air, Rider e Nike. "Tá começando a movimentar. Ainda não tá aqueeela agenda. Tive muito evento, sempre coisa nossa."
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Um começo natural, ele considera. "Aos poucos, vão me conhecendo e querendo o meu som." Mas ser solo ainda lhe dá um pouco de dor de estômago. "Eu tô melhorando bastante. Tomei, antes de um show, quatro comprimidos de Passeflorine [calmante fitoterápico] e uma jarra de camomila com erva-doce. Mas é só até a hora de começar. Daí deslancha."
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Parece já ter deslanchado na mídia, que dá a Pretinho apelidos como o "O Mozart do Samba", graças à sua capacidade de compor. Mas ele segue a tradição. Há algumas semanas, fez um show com músicas famosas de Zeca Pagodinho ("Ele é o caminho!"), de Jorge Aragão e de Originais do Samba.
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"Só canto sucesso. Eu gosto. A pessoa que pagou para ir ali quer ficar alegre, se divertir. É o mínimo que eu posso fazer, cantar o que o povo quer ouvir", explica.
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No fim da apresentação, salpica composições suas (com parceiros) que estouraram, como "Burguesinha" e "Mina do Condomínio", que tratam de meninas ricas. "O samba virou a música do rico, mas não deixou de ser a do pobre também."
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Pretinho organiza altas rodas de samba no apartamento de Paula, na avenida Vieira Souto, em Ipanema. "Antes era eu tocando sozinho para o pessoal ouvir." Um belo dia, convidados do meio artístico como Fernanda Torres, Maria Ribeiro e Caio Blat decidiram tocar. "Nada profissional", diz ele. "Mas cobro muito. Começa a bagunçar eu já deixo claro que não é para conversar ali, não, é para tocar."
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As broncas vão até para estrelas internacionais como o casal de atores Vincent Cassel e Monica Bellucci, que frequentou os encontros. "Ela é mais esforçada. Ele toca um tan-tanzinho, não presta muita atenção", avalia o mestre.
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Seu Jorge o chamou para ir a Los Angeles, onde atualmente vive e se dedica ao cinema. "Cara, eu tive que botar na balança." Não foi e não se arrepende, diz.
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Enquanto isso, gasta o tempo divulgando o trabalho. "Tá rolando, principalmente nas redes sociais. Eu passo o dia inteiro vendo, no telefone. Meu filho de nove anos diz que eu tô me achando." Em três meses, lotou o perfil. "Tô com tendinite brabíssima aqui, no polegar, de ficar teclando." Diz que responde a todos os fãs.
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Mas tem limite. "Chegou para compor, é telefone desligado." É nesse momento, diz, que retoma o contato com o morro da Serrinha, bairro pobre da zona norte do Rio de onde saiu aos 17 anos.
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O apelido foi dado por uma prima porque ele era "amarradão" em "A Banda do Zé Pretinho", de Jorge Ben Jor. O complemento geográfico "da Serrinha" veio depois que deixou o morro.
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Se fossem atualizar seu apelido, ele hoje seria Pretinho da Barra da Tijuca, onde mora com a família e tem uma diarista com quem testa as músicas que escreve.
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"Ela gosta. O momento tá bom pro samba. Pro samba e pro pagode, felizmente."
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Tão bom que foi parar no Grammy Latino 2012, onde tocou ao lado de Caetano. "No dia da festa, saí do quarto, na confusão, com a galera gritando que eu tava atrasado." Entrou correndo na suíte do cantor baiano. "Não conseguia dar o nó na gravata e pedi para ele. Não deu. Veio Sônia Braga e deu um nó lindo."
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Caetano voltou com o troféu, que agora fica na sala da produtora Natasha, na Gávea. "Entro na sala da Paula e vejo como é bonito. Um dia ainda vou ganhar um meu."
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.
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