Ilze e o papa secador
O que importa para Edgar, que secou os brasileiros no conclave, é que Francisco 0 é San Lorenzo desde niño
Amigo torcedor, amigo secador, aqui no Recife, a caminho de Campina Grande para a final da "Lampions League", o torneio mais charmoso do mundo tatu-peba, uma voz me persegue, digo, uma voz me atiça, aquieta, sacode, seduz involuntariamente, me faz baixar um Deus n'alma ao mesmo tempo em que me encaixa um "Diavolo in corpo", o diabo na carcaça, como no filmaço homônimo de Marco Bellocchio.Uma coisa assim meio sagrado como o poeta William Blake, meio bagaceira como uma letra de Wando. Moça, me espere amanhã depois da fumaça, seja branca, seja preta. Uma voz me persegue. Até quando? Sim, óbvio, a voz da Ilze Scamparini e seu cachecol que dança ao vento coreografado por meu inconsciente e dirigido por Deus.
Não consigo mais dormir direito, não consigo deixar de sonhar com um amor proibido na Capela Sistina, não consigo ser alegre o tempo inteiro, mesmo ouvindo o vinil novo do meu ídolo Wander Wildner. Não consigo sequer secar o São Paulo, minha diversão predileta desde o tempo em que o tricolor mandava e desmandava na Libertadores.
Quando a Ilze começa a narrar o simples ato do papa emérito, o Bento, ter tomado um sorvete no seu retiro... Quando a Ilze se encanta com o franciscanismo do Chico argentino, minha Nossa Senhora do Passa Quatro, que cadência de narrativa, salve Araras, que deu ao Vaticano a mais bela e pródiga das italianas.
Uma voz me persegue e, juro, puro delírio, acabo de ver um cachecol até em um coqueiro da praia de Boa Viagem. Meu corvo Edgar, cutuca: "Acorda, xarope!".
Deixa a Ilze em paz, recomenda a mais agourenta das aves futebolísticas do universo. O que importa para Edgar, que secou os brasileiros no conclave -chega de pachequismo eclesiástico!- é que o Francisco 0 é San Lorenzo desde niño, religiosamente o time de Buenos Aires que adota o corvo como mascote.
Em vez de "chupa, Brasil", Edgar, que se sente local depois de um estágio com o poeta Fabián Casas, crocitou: "Chupa, Boca". Boca de Boca Juniors, naturalmente, caro amigo laico. Um corvo jesuíta é capaz, à maneira do padre Anchieta, de rabiscos na areia que a própria maré das obviedades desconhece.
Uma voz mansa, como aquela mais edipiana das nossas mães botando um ovo estrelado em cima do nosso bife raríssimo, lá na infância da chapada do Araripe. Procuro razões freudianas e ludopédicas, Ilze, mesmo assim não há nada que justifique, no divã ou na arquibancada, essa voz que não desprega das minhas oiças, a voz rouca que sabe falar a língua dos homens.
Ah, o Campinense é favorito, mas que ninguém brinque com o Asa de Arapiraca, você aí que é Palmeiras, você aí que é Wanderley Luxemburgo, sabe do que estou falando. Vou tentar esquecer a voz da Ilze, pelo menos durante a finalíssima da "Lampions League".
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