domingo, 17 de março de 2013

Única distribuidora 100% dedicada à produção nacional, a Dowtown Filmes soma boas bilheterias.- Walter Sebastião‏

Única distribuidora 100% dedicada à produção nacional, a Dowtown Filmes soma boas bilheterias. Dos 41 filmes previstos para estrear este ano, nove serão lançados por ela 


Walter Sebastião

Estado de Minas: 17/03/2013 

“Sou um soldado do cinema brasileiro”, afirma Bruno Wainer, de 52 anos. Ele é o fundador da Downtown Filmes. O cinema faz parte da vida dele desde os 17 anos. Depois de uma década trabalhando em funções técnicas, tendo atuado como assistente de direção de vários diretores importantes, Bruno partiu, em 2006, para criar sua firma. Que, inicialmente, também lançava filmes estrangeiros. “Percebi que me dedicando ao cinema brasileiro podia fazer a diferença”, conta. A partir de 2008, a Downtown tornou-se, como gosta de dizer Bruno, a única empresa 100% dedicada à produção nacional. Foi a empresa, sozinha ou com parceiros, que lançou Gonzaga – De pai para filho, Lixo extraordinário, Meu nome não é Johnny, Central do Brasil, Cidade de Deus.

Teve participação ativa da distribuidora o desenvolvimento de projetos que resultaram nos filmes O divã, De permas pro ar 1 e 2 e Chico Xavier (Bruno não só comprou os direitos do livro de Marcel Souto Maior como levou o diretor Daniel Filho para a empreitada). Dos 41 filmes brasileiros previstos para chegarem às telas em 2013, nove serão lançados pela Downtown. Número, observa Bruno, que mantém a média dos últimos anos. “Dá para lançar em um ano, com decência, cerca de 12 filmes. Mais do que isso, vira pizzaria”, brinca. “Uma distribuidora se mede mais pelo número de ingressos vendidos do que pelo número de filmes que lança”, avisa Bruno.

Lançamento decente de um filme, para Bruno Wainer, envolve entender o filme, analisar todos os aspectos, criar campanha, conceber estratégia de lançamento, conversar com os produtores etc. “Nada chega pronto, então dá trabalhão”, garante. Maiores chances de sucesso, conta, têm os filmes dos quais o distribuidor participa de todo o projeto de elaboração da obra, financiando a produção ou parte dela (como o roteiro) em troca dos direitos de distribuir o filme. “Submeter o projeto a uma distribuidora é uma forma de ficar alerta para que o filme seja o mais comercial possível em todos os aspectos”, explica, considerando desde escolha de elenco até edição, duração etc.

“Cinema para mim é indústria, custa caro, precisa de tecnologia, envolve muitos aspectos. Então, é necessário retorno financeiro para ser feito”, justifica Bruno. “O filme artístico vai aparecer à medida que tenhamos uma indústria cada vez mais forte”, defende. “Conseguir imenso sucesso popular e a glória artística é privilégio de poucos no Brasil e no mundo. Quantos filmes participam de festivais importantes como Veneza, Cannes ou Berlim, Locarmo ou Roterdã? Poucos. E menos ainda foram premiados”, observa. “Todo filme brasileiro que consegue vender 1 milhão de ingressos tem valor cultural. Conseguiu que um milhão de brasileiros optassem por ver um filme nacional”, defende.

O sucesso de Pernas pro ar 1 e 2, para Bruno, deve-se à soma de “tema pertinente, talentos competentes e ao fato de serem comédias, gênero com tradição na cinematografia brasileira”. Chico Xavier, “que pegou forte”, colocou na tela “o herói do Brasil”. É história de um homem que fala com espíritos e tem mensagem cujos valores são os mesmos da população. O divã, por sua vez, somou texto bom, identificação das mulheres com o assunto e tem a presença de Lília Cabral. “Ela tem brilho de estrela”, afirma, contando que o sucesso na novela veio depois do filme. “Às vezes, o cinema influencia a televisão”, observa.

Duas perguntas para...
Bruno Wainer

produtor

O que é drama e o que é prazer quando se trabalha com filmes brasileiros?

Drama é não ter acesso a recursos na velocidade que preciso para financiar bons produtos que estejam na fila esperando. O prazer, indescritível, é conseguir vender mais ingressos do que uma produção de Holywood, com filmes realizados com orçamentos 100 vezes menores que os das multinacionais. É petulância nossa. Na indústria automobilística o importado é mais caro, nós competimos de igual para igual, com o mesmo preço. O cinema brasileiro vende, em média, de 10%  a 15% do total de ingressos de filmes no Brasil. Podemos vender mais. Mas há pouca oferta de filmes comerciais, a maioria não tem compromisso com bilheteria. Então, são 10 filmes contra 150 das multinacionais. É pouco. Se as múltis lançam 150 filmes, por que não podemos sonhar em lançar 30, para valer?

O que temos que ajuda na produção de filmes e o que ainda faz falta?

Temos, com fartura, excelentes autores, vastíssima opção de elenco, produtores competentes. Condições para ter uma indústria de cinema forte, popular e campeã na venda de ingressos e momentos de alta iluminação artística. O que falta é o poder público escolher de vez o lado dele, apostar nos talentos que têm compromisso com resultado. Temos muitas distribuidoras, mas a única dedicada 100% ao cinema brasileiro é a Downtown. Quem, em qualquer lugar do mundo, tem cinematografia local forte precisa de distribuidoras locais fortes. E precisamos aumentar o número de salas de exibição, são os pontos de venda. As regiões abastadas estão bem servidas, mas os setores que agora estão consumindo filmes estão sem acesso ao cinema brasileiro. Dobrar o número de salas, para começar, está bom.

Em busca de uma cultura de exibição

Depois de realizar o Indie Festival de Cinema durante 15 anos, a produtora mineira Zeta Filmes, desde dezembro, está com nova atividade: distribuição de filmes. A estreia se dá com o lançamento, no Brasil, de Caverna dos sonhos esquecidos, filme em 3D do alemão Werner Herzog, e Deixe a luz acesa, do norte-americano Ira Sachs (ambos exibidos em São Paulo, o de Herzog, que ainda não estreou em BH, continua em Sampa e o segundo já passou pela capital mineira). Ainda no primeiro semestre, chegam às telas Hotel Mekong, do tailandês Apichatpong Weerasethakul, e Apenas o vento, dirigido pelo húngaro Benedek Fliegauf. Todos filmes independentes demarcando escolha e curadoria, explica Daniela Azzi, diretora da Zeta, junto com Francesca Azzi e Eduardo Cerqueira.

Daniela Azzi explica que ter filmes sendo exibidos em São Paulo não quer dizer que a Zeta está bombando. Ela prefere definir o momento como de aprendizado. Para saber como preparar filme para lançamento até “fazer legenda para filme em 3D” passando por observação da recepção e bilheteria dos filmes etc. Distribuir filmes, conta Daniela, é projeto antigo. “Como todo ano selecionamos longas, legendamos, exibimos no Indie Festival, sempre ficava a vontade de comprar alguns e exibir comercialmente. As pessoas pedem para ver certos filmes que passaram no festival e não temos como atendê-las”, acrescenta.

Dos quatro primeiros filmes lançados pela Zeta, apenas Caverna dos sonhos não foi exibido no Indie. “É um filme maravilhoso que tenta compreender a humanidade a partir de uma caverna. E o fato de ter sido feito em 3D não é gratuito”, elogia. Hotel Mekong traz obra de diretor premiado, respeitado, e que já ganhou retrospectiva no Indie. Apenas o vento é de diretor com quatro longas realizados, nenhum deles lançado no Brasil. “Trata-se da ampliação de cinematografias”, explica, lembrando que o diretor é húngaro. Deixe a luz acesa, por sua vez, é um filme bom, com história real, de um relacionamento como é mesmo. É filme que tem muita verdade”, afirma. “Acreditamos no talento desses realizadores”, diz.

A diretora da Zeta Filmes conta que a produção de filmes independentes e autorais, hoje, no mundo, “é imensa”. E, como em todas as áreas, há produções muito boas, médias e ruins. “Cinema comercial e cinema independente são, e sempre vão ser, duas faces da mesma moeda”, afirma. Considera que não há como comparar, sem ser injusto, produções que “gastam milhões para ganhar milhões exibindo um filme em dezenas de salas e para muita gente”, com empresas e realizadores que investem em produções para público “mais focado, que escolhe o que vai ver como alguém escolhe os livros que lê”, observa. “São dinâmicas diferentes, com expectativas diferentes com o cinema”, analisa. (WS)

Uma pergunta para...
Daniela Azzi


Como vê o circuito exibidor brasileiro?
São muitos filmes para poucas salas, exibidores com muitos lançamentos, distribuidores esperando vagas na programação. Situação que traz dificuldades para o cinema brasileiro e as produções independentes. A solução, para mim, é macro, é dar nova estrutura à exibição. Existem muitas cidades que não têm salas de cinema, então, precisamos de mais salas. Mas onde? Que tipo de salas? Mostrando que filmes? Não adianta só aumentar o número de cinemas, precisamos formar uma cultura da exibição, saber que lugares precisam de cinemas, como as salas interagem com o entorno, que programações vamos ter etc. Não acho que a solução seja novos espaços exibindo os mesmos filmes mostrados em outras salas, o que pode levar inclusive à redução do espaço para os independentes, como vem ocorrendo em Belo Horizonte. Tenho mais perguntas sobre exibição e o circuito exibidor do que respostas.

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