Adolescentes de carne e osso
Seria injusto dizer que só a TV pública tem tido coragem de mostrar jovens com um perfil menos óbvio
Adolescente ainda vê televisão? Ou quer se ver na tela? Mesmo sem saber com precisão a resposta para essas questões, diferentes experiências têm sido feitas com a ambição de retratar o adolescente.
A mais recente é "Pedro & Bianca", que a TV Cultura volta a exibir hoje, às 14h. Projeto com a grife de Cao Hamburger, um dos nomes por trás da brilhante série infantil "Castelo Rá-Tim-Bum" (1994-1997), o seriado tem a particularidade de falar sobre um universo específico, o adolescente da classe C, mas sem paternalismo ou clichês, de um jeito capaz de interessar a qualquer público.
A série conta a história de dois irmãos gêmeos, de 15 anos. Pedro é branco, como sua mãe, e Bianca é negra, como o pai. Eles estudam em um colégio público e moram em um bairro residencial fora do eixo central de São Paulo, repleto de casas térreas e sobrados simples.
A história tem início no primeiro dia de aulas do ensino médio. Bianca hesita em ir à escola porque seu cabelo está feio e Pedro sofre bullying de veteranos. Em outro episódio, Bianca rejeita uma colega nova pelo fato de ela ser boliviana. Sexualidade, bebida, drogas, namoros, preconceito e trabalho estão entre os temas abordados.
Da mesma forma que os problemas da adolescência, que se repetem ou se reciclam de geração em geração, os temas abordados não são exatamente novos. Mas, muito bem escritos e dirigidos, despertam curiosidade do início ao fim.
Giovanni Gallo e Heslaine Vieira interpretam os protagonistas e, como os demais jovens na série, impressionam pelo ótimo trabalho.
Ainda que em chave educativa e politicamente correta, a série busca um registro realista do universo retratado (está sendo filmada numa escola pública real, no bairro do Butantã) e consegue se desenvolver com graça e habilidade.
Os primeiros sete episódios foram exibidos, sem muita repercussão (audiência entre 0,7 e 1 ponto), no final de 2012. Agora em março, a TV Cultura volta a apresentá-los desde o início. A emissora prevê a produção de 52 episódios.
Em 2011, a TV Brasil exibiu três seriados que venceram um concurso público, proposto pelo Ministério da Cultura em 2008, com o objetivo de contar histórias com "uma visão original sobre a juventude brasileira das classes C, D e E".
Dos três projetos selecionados, dois resultaram em excelentes seriados. "Natalia", drama sobre uma jovem evangélica que vira modelo no Rio, e "Vida de Estagiário", comédia baseada nas tirinhas de Alan Sieber, não alcançaram, porém, o merecido retorno. Esta última está sendo reexibida atualmente no canal pago Warner.
Seria injusto dizer que apenas a TV pública tem tido coragem de mostrar jovens com um perfil menos óbvio -e de menos apelo comercial. Em diferentes momentos de sua história, a novela "Malhação", da Globo, destinada a esse universo, também se debruçou sobre adolescentes da periferia ou de comunidades carentes.
O insucesso em matéria de audiência das últimas experiências, porém, levou a uma guinada em 2012. Na sua 20ª temporada, ainda em cartaz, a novela da Globo retornou ao ambiente solar e florido da zona sul carioca, bem familiar aos espectadores.
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