domingo, 17 de março de 2013

Editorial FolhaSP - Charge

folha de são paulo


A burrice e seu limite
Desabafo de empresário e colaborador do Planalto sobre excesso de ministérios toca no ponto fraco do Estado -o império da fisiologia
Enquanto se processa um dos rotineiros ajustes nos ministérios (a palavra "reforma" seria evidente exagero), ouve-se de respeitável conselheiro do governo Dilma Rousseff um desabafo inusitado.
O empresário Jorge Gerdau, que a título de voluntariado exerce o cargo de presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência da República, declarou considerar uma "burrice" a existência de 39 pastas no país.
Em entrevista a Fernando Rodrigues e Armando Pereira Filho, o empresário alterna momentos de esperança e desespero. A rigor, combinam-se: é numa avaliação de desespero esperançoso, por assim dizer, que Gerdau acrescenta: a burrice "talvez já tenha chegado a seu limite".
Não se trata, evidentemente, de crítica à capacidade intelectual da presidente, com quem o encarregado de racionalizar a administração pública federal mantém bom relacionamento e compartilha, sem dúvida, opiniões parecidas.
A questão é que, para acomodar a ampla variedade de partidos políticos que apoiam o governo, cargos são criados e distribuídos sem nenhum motivo técnico. Vai-se chegando ao paradoxo: para garantir a chamada "governabilidade" do país, a estrutura do próprio governo se torna ingovernável.
Em face das pressões sempre crescentes do empreguismo e da fisiologia, são bastante modestos os avanços que Gerdau pode creditar a seu trabalho no governo.
Pequenas coisas foram obtidas, diz o empresário, e dá como exemplo o aeroporto de Guarulhos. A capacidade de atendimento do maior aeroporto brasileiro era de 900 usuários por hora; de 2011 para 2012, o índice passou a 1.500.
A minúcia dessa conquista já consiste, por si só, em sintoma de que os problemas estruturais da administração federal -à qual competiria, em tese, resolvê-los- passam longe da esfera de poder concedida a Gerdau e encontram sua origem num sistema político que, burramente, subsiste inalterado no país.
A burrice talvez tenha chegado a seu limite, espera Gerdau. Será? Anunciou-se na sexta-feira, por exemplo, uma mudança de nomes na Secretaria da Aviação Civil -órgão que, para quem não sabe, tem status de ministério no Brasil. Seu titular, um técnico sem filiação partidária, cede espaço a um político do PMDB. É que outra secretaria, a de Assuntos Estratégicos, antes destinada ao peemedebista, pareceu insuficiente à agremiação.
O problema, para resumir, parece não ser tanto o de que a burrice tenha limites. É que, na política brasileira, a esperteza não os tem de modo algum.


EDITORIAIS
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Nova energia americana
O Brasil deve dar atenção às mudanças na política e na produção de energia dos EUA. Barack Obama anunciou um projeto que tende a acelerar essa transformação.
Desde 2008 ocorre uma reviravolta no mercado de energia americano e uma reorientação do governo a respeito do assunto.
O país tende a depender menos de petróleo -e ainda menos de petróleo importado. Cresce a produção tanto de combustíveis fósseis quanto de energias renováveis. Segue acelerado o programa de pesquisa de tecnologias energéticas.
Assim, diminui o enorme peso dos EUA no mercado mundial de petróleo e gás, o que afetará preços e vantagens relativas de cada país.
A descoberta de novos campos e tecnologias de produção reduziu em 50% a parcela de petróleo importado no consumo americano desde 2008. Quase dobrou a participação de energias alternativas.
O aumento da oferta de combustíveis fósseis, de gás natural em particular, reduziu custos e incentivou a construção de refinarias. A baixa de preços tornou viável o renascimento de indústrias e empregos nos setores de plásticos, pneus, química e alumínio. O primeiro governo Obama dava ênfase a energias renováveis. A expansão do petróleo e do gás, fracassos estrondosos na política de subsídios a energias alternativas e a força da oposição republicana reduziram o ímpeto inovador.
O presidente americano, porém, não se rendeu totalmente. Anunciou um programa de incentivo a pesquisas para desenvolver veículos movidos a eletricidade, biocombustíveis, hidrogênio e gás natural.
No Brasil, desde 2008 não houve expansão na exploração de petróleo. A mudança das leis do setor, devido à descoberta do pré-sal, revelou-se um tiro no pé. A produção de petróleo cresce pouco e a duras penas, dadas as avarias da Petrobras, causadas por políticas erradas do governo, as quais prejudicaram também o setor de álcool.
Os progressos americanos tendem a diminuir a importância econômica do petróleo.
O Brasil pode atrasar-se na pesquisa de biocombustíveis e perder espaço relativo relevante no mercado mundial de energia.
Pode perder, ainda, a oportunidade de transformar o pré-sal e o álcool combustível em propulsores do desenvolvimento e da criação de novos setores econômicos no país, como nas áreas de química, materiais e robótica.
Distraído dos avanços pelo mundo, o Brasil marca passo em áreas críticas do desenvolvimento, como inovação tecnológica, abertura para o mercado mundial e energia.

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